"A educação não é só ciência, mas é também arte. O ato de educar é complexo. O êxito do ensino não depende tanto do conhecimento do professor, mas da sua capacidade de criar espaços de aprendizagem, vale dizer, “fazer aprender” e de seu projeto de vida de continuar aprendendo."
"Só é possível conhecer quando se deseja, quando se quer, quando nos envolvemos profundamente com o que aprendemos. No aprendizado, gostar é mais importante do que criar hábitos de estudo."
"O professor precisa saber que é difícil para o aluno perceber a relação entre o que ele está aprendendo e o legado da humanidade. O aluno que não perceber essa relação não verá sentido naquilo que está aprendendo e não aprenderá, resistirá à aprendizagem, será indiferente ao que o professor estiver ensinando. Ele só aprende quando quer aprender e só quer aprender quando vê na aprendizagem algum sentido. Ele não aprende porque é “burrinho”. Ao contrário, às vezes, a maior prova de inteligência encontra-se na recusa em aprender."
Os textos selecionados acima, foram os que considerei mas interessantes para colocar em discussão. Isso porque me interesso em entender o perfil psicológico de meus alunos. Percebi ao longo de minha curta carreira que ser professor é ser um pouco psicólogo, talvez isso explique meu fascínio pelas aulas de psicologia da educação na faculdade. Lendo o livro de Rubem Alves sobre a escola da Ponte; “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” percebi como o olhar do psicólogo é crucial.
O processo de aprendizagem do aluno, que procura a sua luz própria, é único. Sendo, por isso, uma experiência psíquica intensa. E cabe ao professor conceder um ambiente propicio, para esse momento de “insight” único e individual de cada aluno. A função do professor ao longo dos tempos e das “escolas” foi se transformando e se perdendo. No principio a instituição “escola” não existia, os filhos dos nobres e membros da realeza não tinham que arrumar merendas e vestir uniformes para ir aprender. Pelo contrário os professores “mentores” acompanhavam seus pupilos em casa, nas bibliotecas, pelos campos. E esses iam aprendendo no dia a dia a partir que a vida colocava os problemas em suas frentes, sem avaliações, sem reprovações. A aprendizagem era espontânea, divertida, desejada, e é só assim que ela ocorre.
A escola de hoje acabou com o processo natural e individual que é a aprendizagem. E o professor acompanhou essa desconstrução, pois teve que massificar o conhecimento. A escola se tornou um ambiente desagradável e chato, onde o aluno teve que se tornar obrigado a comparecer (menos de 75% de presença causa reprovação por falta). E a conseqüência disso é a violência o desrespeito e a “burrice”, alias esse ultimo termo é o que menos gosto. Ninguém é burro, o professor é que não conseguiu despertar o desejo de aprendizagem e avaliou erroneamente o aluno. Com respeito a isso coloco para a reflexão a estória a seguir, entre um aluno, um professor e sua avaliação:
Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física, que recebera nota 'zero'. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma 'conspiração do sistema' contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: 'Mostrar como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.' A resposta do estudante foi a seguinte:
'Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.' Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredito. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder a questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física.
Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder.Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
No momento seguinte ele escreveu esta resposta:
'Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmulah = (1/2)gt2; calcule a altura do edifício.'
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
"Ah!, sim," - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro."
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.
"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo. bem como a do edifício. Depois, usando uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício."
"Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se a altura do edifício em unidades barométricas."
"Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença."
"Finalmente", concluiu, "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer; diz-se:
'Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.'"
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
"Só é possível conhecer quando se deseja, quando se quer, quando nos envolvemos profundamente com o que aprendemos. No aprendizado, gostar é mais importante do que criar hábitos de estudo."
"O professor precisa saber que é difícil para o aluno perceber a relação entre o que ele está aprendendo e o legado da humanidade. O aluno que não perceber essa relação não verá sentido naquilo que está aprendendo e não aprenderá, resistirá à aprendizagem, será indiferente ao que o professor estiver ensinando. Ele só aprende quando quer aprender e só quer aprender quando vê na aprendizagem algum sentido. Ele não aprende porque é “burrinho”. Ao contrário, às vezes, a maior prova de inteligência encontra-se na recusa em aprender."
Os textos selecionados acima, foram os que considerei mas interessantes para colocar em discussão. Isso porque me interesso em entender o perfil psicológico de meus alunos. Percebi ao longo de minha curta carreira que ser professor é ser um pouco psicólogo, talvez isso explique meu fascínio pelas aulas de psicologia da educação na faculdade. Lendo o livro de Rubem Alves sobre a escola da Ponte; “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” percebi como o olhar do psicólogo é crucial.
O processo de aprendizagem do aluno, que procura a sua luz própria, é único. Sendo, por isso, uma experiência psíquica intensa. E cabe ao professor conceder um ambiente propicio, para esse momento de “insight” único e individual de cada aluno. A função do professor ao longo dos tempos e das “escolas” foi se transformando e se perdendo. No principio a instituição “escola” não existia, os filhos dos nobres e membros da realeza não tinham que arrumar merendas e vestir uniformes para ir aprender. Pelo contrário os professores “mentores” acompanhavam seus pupilos em casa, nas bibliotecas, pelos campos. E esses iam aprendendo no dia a dia a partir que a vida colocava os problemas em suas frentes, sem avaliações, sem reprovações. A aprendizagem era espontânea, divertida, desejada, e é só assim que ela ocorre.
A escola de hoje acabou com o processo natural e individual que é a aprendizagem. E o professor acompanhou essa desconstrução, pois teve que massificar o conhecimento. A escola se tornou um ambiente desagradável e chato, onde o aluno teve que se tornar obrigado a comparecer (menos de 75% de presença causa reprovação por falta). E a conseqüência disso é a violência o desrespeito e a “burrice”, alias esse ultimo termo é o que menos gosto. Ninguém é burro, o professor é que não conseguiu despertar o desejo de aprendizagem e avaliou erroneamente o aluno. Com respeito a isso coloco para a reflexão a estória a seguir, entre um aluno, um professor e sua avaliação:
Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física, que recebera nota 'zero'. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma 'conspiração do sistema' contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: 'Mostrar como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.' A resposta do estudante foi a seguinte:
'Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.' Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredito. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder a questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física.
Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder.Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.
No momento seguinte ele escreveu esta resposta:
'Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmulah = (1/2)gt2; calcule a altura do edifício.'
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
"Ah!, sim," - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro."
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.
"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo. bem como a do edifício. Depois, usando uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício."
"Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se a altura do edifício em unidades barométricas."
"Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença."
"Finalmente", concluiu, "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer; diz-se:
'Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.'"
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
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