quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Mudar pra que?

"A maioria afirma que a profissão docente deve mudar - sobretudo em função da complexidade da nova sociedade - mas não se diz como, nem porque e para onde devemos mudar."

Esta semana procurando um colégio para matricular o meu filho no 6º ano do Ensino Fundamental, acessei a página de um colégio na Penha em que na sua proposta de avaliação citava as mudanças na legislação e na importância de se adequar a nova forma de avaliar criando vários recursos para auxiliar o aluno na sua avaliação. Enfatizava a importância de se criar outros instrumentos tais como trabalhos, pesquisas, atividades extras para juntamente com a prova refletirem uma visão mais completa do aluno não se limitando unica e simplesmente na prova. Tudo isso no entanto sem perder o norte da questão que é a nota, que continua sendo o principal.
Logo depois como tópico seguinte vem o manual do aluno em que é relatada toda a relação que a escola vai travar com o aluno quanto a questão comportamental. E ai toda a rigidez é colocada como pontualidade nos horários, não sendo permitidos mais de 3 atrasos (onde o aluno retorna para casa e só pode aparecer na escola com autorização do responsável. Isto porque o aluno se atrasou.) Quanto ao uniforme, onde o aluno só poderá usar o uniforme da escola e mais nenhum, nem casaco, só o casaco do uniforme. Enfim, poderia estar aqui citando muitos outros ítens deste manual e escreveria o dia inteiro.
O importante neste sentido é questionar e refletir como as coisas funcionam na nossa cabeça. Mudar, por que mudar?, como mudar?
O texto em uma outra parte cita os diversos seminários e congressos sobre educação onde se passa um dia inteiro num lugar belíssimo, chão aveludado, poltronas imponentes, ambiente finíssimo, e uma pessoa investida de um linguajar muito envolvente e que nos encanta durante todo o tempo de sua fala, mas que porém, ao final como que num estalo termina o encanto, e venho para casa da mesma forma que fui sem saber o que fazer, como fazer, como resolver as minhas dificuldades no relacionamento para com os meus alunos, sem a resposta de como desenvolver uma dinâmica de aprendizado em que o meu aluno saia com um conteúdo embasado, em que ele entenda e assimile, não apenas decore e responda para mim aquilo que eu quero ouvir.
Acho que neste momento se queremos realmente mudanças, se eu defendo realmente isto e não só da boca pra fora porque é bonito falar, devemos primeiramente nos despojar do que acreditamos como verdade plena. Escutar o que é novo, refletir e deixar as coisas acontecerem, permitir que as coisas aconteçam. Digo isto internamente, deixar fluir pelo seu corpo o novo. Nós temos medo no novo. Tudo aquilo que ameaça as nossas convicções tende a ser rechaçado, porque não sabemos lidar com o novo. E pelo pouco tempo que tenho de contato com todos vocês percebo que um grande problema que assola toda a classe de professores no relacionamento com os alunos é o famigerado "controle de turma". Acho que ai reside um problema que hoje percebo que acompanha a educação a muito tempo, desde os meus tempos de criança e que hoje percebo de forma bem mais clara. Agora entendo o comportamento do meu professor de quimica do Ensino Médio (antigo cientifico) que explicava a matéria sem olhar para ninguém, não se importando se você estava entendendo ou não e que tirava onda de ser "o cara". Todos nós na sua aula ficávamos quietinhos para não perdermos a explicação. Entendo a minha professora de Língua Portuguesa que por outro lado chorava em sala por não conseguir fazer com que ficássemos quietinhos prestando atenção em sua aula porque ao contrário do outro professor era aquela professora boazinha, que falava baixo e que pedia silêncio e ninguém obedecia.
Toda a relação que se trava com outro ser sempre e em qualquer situação vai ser complicada, porque envolve vida salvo as que são estabelecidas profissionalmente onde está dito a que veio (e esta não pode ser considerada uma relação verdadeira) daí termos o tal colega de trabalho que nunca vai ser meu amigo.
Educação não é algo que se passe para o outro meramente por dinheiro. Mesmo quando penso desta forma estou transmitindo vida (mesmo sendo um mal exemplo).
Conheço professor de 4ª a 8ª série que diz levar muito a sério a educação e por ser tão rigida é capaz de dizer para um aluno que faz muita bagunça que vai ficar fora de sua aula por um mês. Diz que esta é a forma de não se atrapalhar os que querem aprender.
Como salvar uma alma dessa, como fazê-lo refletir sobre tudo isso? Aqui mesmo na escola já teve professor que colocou em nosso mural materia de jornal em que se defendia que o professor não tem nada a ver com a educação do aluno. Que a sua função não deve se misturar com a vida do aluno. Ou seja, não me interessa quais os problemas que você tem, se comeu ou se está sem comer por falta de dinheiro e o pouco dinheiro é para a passagem, enfim, o meu papel é vir a escola dar a aula e ir embora. Na hora de avaliar eu não tenho nada a ver com a sua vida e o que você fez ou não eu tenho uma nota vermelha ou azul e que determina a sua situação.
Na realidade tudo isto é muito prático porque se eu me escondo na figura de durão eu controlo a a situação e pronto, ninguém me enche o saco. Se eu tenho o critério que me diz que nota vermelha é reprovado e azul é aprovado, pronto, para que me preocupar com outras coisas?.
E assim caminha a classe de educadores deste país (não generalizando, mas em função do quadro que vemos).
A profissão do docente deve mudar sim e muito já começando lá atraz no juramento que se faz na formatura, de levar o conhecimento a todos então se são todos são todos sem excessão. As formas de se levar o conhecimento são o grande desafio de todo educador para que o conhecimento seja compartilhado, seja vivido, seja trocado e isto envolve experiências diferentes de vida que ao se juntarem em um ambiente sirvam para engrandecer e fazer o ser humano crescer. Mas como disse no início isto tem que estar dentro de cada um de nós, tem que estar impregnado de sentimento de mudança, tem que estar aberto para o que há de vir.

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