No final do ano recebi o convite/pedido/ordem/requisição de um amigo muito querido de traduzir dois livros de outro amigo muito querido, Dario Ergas, um chileno integrante do Movimento Humanista do qual também faço parte. Os livros: “O sentido do sem-sentido” e “O olhar do sentido” têm sido meus companheiros desde o dia 28 de Dezembro do ano passado e influenciado tudo em minha vida. Dario procura estabelecer um diálogo com quem lê e como todos os seus comentários acerca do que seja o humano são baseados em experiências/registros muito pessoais, é fácil se identificar com a leitura.
Esclareço isso porque, como Gadotti diria, e antes dele Freire, e Alves e tantos outros, contexto é tudo. Bem, amigos é nesse momento que o texto para estudo número I invade minha caixa de e-mail com suas 25 páginas. Devo confessar que, imersa como estava na linguagem filosófica e poética de Mr. Ergas, quase que não consegui lê-lo. Mas li, procurei entrar no clima e cada frase me deixava profundamente incomodada. Eu organizo o trabalho com meus alunos? Eu inovo? Sou mediadora do conhecimento? Nossa, eu não sou nada disso! Devo ser? Quero ser? Ohmygod!
Não me entendam mal, eu adoro mudanças e me considero alternativa. Mas as perguntas picaram minha mente que nem abelhas, incharam, só não criaram pus porque eu sou limpinha. Pensa só nisso aqui que ele diz:
"O professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o quefazer dos seus alunos.Ele deixará de ser um “lecionador” para ser um organizador do conhecimento e daaprendizagem."
Aí que eu lia um pouco do Gadotti e traduzia um pouco do Dario. E um começou a conversar com o outro, bem ali, na tela do meu computador. O Gadotti dizia: “Aluno sujeito de sua formação... blábláblá.... construir e reconstruir....blábláblá” e o Dario dizia que a Bondade, a Sabedoria e a Força estão dentro de nós e não são NOSSAS como, digamos, um MP3 pode ser NOSSO, mas são energias que andam por aí, pelo universo, subterrâneas e que os seres humanos, como construtores de sua própria realidade, podem trazer para o plano material, para esse mundo em que vivemos.
Claro que eu tive que me meter na conversa! No domingo, acordei cinco e meia da manhã e fui para o terraço do sobradinho onde moro com minha filha. Fui ver o nascer do sol, fiz exercício, tudo com uma música imaginária de fundo (para os curiosos era a trilha sonora de O Feitiço de Áquila). Fiquei lá vendo o sol nascer e sentei um pouco para meditar sobre tudo que andava lendo. Respirei fundo, deixei que os pensamentos passassem sem procurar retê-los ou afasta-los, observei que minha mente estava inquieta, meu coração sobressaltado e meu corpo tenso. Relaxei lentamente. E perguntei bem pro fundo de mim mesma: “Qual é o Sentido disso tudo?”.
E não é que entre leituras, respirações e concentração me veio uma resposta. Uma resposta em forma de imagem. Tentarei traduzir em palavras: O ser humano é como um pintor que escolhe as tintas com que trabalha. Pode trabalhar com tintas de qualquer cor e cada tinta tem uma característica e produz um efeito nele. Pode trabalhar com a tinta da Paz e semeá-la, mas normalmente tem muito medo de desaparecer se o fizer, de ser menos de alguma maneira. Pode trabalhar com a tinta da Sabedoria, mas teria de abrir mão de “saber mais do que” para simplesmente saber. Pode também trabalhar com a tinta da Força que independe do resultado, a Força que se registra independente do que acontece pra lá ( pra fora de nós). Pode também ficar na base da argamassa, só consertando coisas menores e nunca chegando a colorir mesmo sua obra.
E nessa imagem nosso trabalho seria justamente navegar e ajudar a que outros naveguem essas energias internas tão poderosas e as expressem no mundo. Imagino rios subterrâneos de energias e a gente surfando nelas...Bem, pra mim funciona ! É subjetivo, lógico!
Daí o Dario ouviu, gostou e disse:
- Sabia que se a gente olhar com cuidado e buscar os momentos em que a gente estava fazendo alguma coisa em direção aos outros, sentindo-nos muito bem conosco mesmo, encontramos várias ações em nossas vidas que nos indicam nossa missão?
E o Gadotti respondeu:
- Claro! Encontrando nosso próprio sentido conseguimos apontar o sentido ao “quefazer” de nossos alunos!!!!
Já estavam agindo como amigos e infância, os dois!!!!
E Dario completou:
- O problema é que a gente espera que essas ações, esse momentos de sentido, que eu chamo de ações válidas, sejam momentos grandiosos, assim como em hollywood e na verdade são momentos super simples, mas que são muito profundos e alegres. Uma alegria tranqüila, não uma alegria com efeitos especiais, sabe?
Gadotti entendeu perfeitamente.
E eu também.
Eu entendi que quando as perguntas dele me feriam era porque eu esperava que em sala de aula esse “construir o sentido” fosse glamouroso, hollywoodiano, cheio de efeitos especiais e diálogos bem construídos. E não chega nem perto. Mas...é justamente essa necessidade de que seja tão “super-ultra” que nossos alunos sentem comparando a aula com a televisão. E é justamente isso que nos afasta do humano. E o humano, que é um materializador de sonhos, passa a ser um ser triste, cabisbaixo que pensa que as coisas vêm de fora, acontecem com ele, são tão injustas e que não há nada que ele possa fazer, quando, na verdade, é ele quem as projeta assim.
Enfim, eu entendi que ficava preocupada com as perguntas e não conseguia ver momentos de sentido em minha prática pedagógica anteriormente porque estava procurando do jeito errado. Procurando o tipo errado de coisa. Quando comecei a buscar simplicidade, encontrei: situações em que ajudei meus alunos, cumplicidade, tentativas de inovação, acertos, erros, medo, dias muito bons e muito ruins, mas, principalmente, encontrei pessoas que estavam tentando materializar as tais energias boas aqui na terra e, nem sempre conseguiam, mas estavam mesmo tentando.
Eu desejo que essas imagens emotivas guiem mais minha prática esse ano do que imagens cognitivo-intelectuais, que esses caras maneiros e cheios de idéias continuem conversando na minha cabeça e que eu encontre ( ainda não estou nem perto de saber como) uma forma de fazer tudo isso ensinando inglês.
Esclareço isso porque, como Gadotti diria, e antes dele Freire, e Alves e tantos outros, contexto é tudo. Bem, amigos é nesse momento que o texto para estudo número I invade minha caixa de e-mail com suas 25 páginas. Devo confessar que, imersa como estava na linguagem filosófica e poética de Mr. Ergas, quase que não consegui lê-lo. Mas li, procurei entrar no clima e cada frase me deixava profundamente incomodada. Eu organizo o trabalho com meus alunos? Eu inovo? Sou mediadora do conhecimento? Nossa, eu não sou nada disso! Devo ser? Quero ser? Ohmygod!
Não me entendam mal, eu adoro mudanças e me considero alternativa. Mas as perguntas picaram minha mente que nem abelhas, incharam, só não criaram pus porque eu sou limpinha. Pensa só nisso aqui que ele diz:
"O professor é muito mais um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. O aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o quefazer dos seus alunos.Ele deixará de ser um “lecionador” para ser um organizador do conhecimento e daaprendizagem."
Aí que eu lia um pouco do Gadotti e traduzia um pouco do Dario. E um começou a conversar com o outro, bem ali, na tela do meu computador. O Gadotti dizia: “Aluno sujeito de sua formação... blábláblá.... construir e reconstruir....blábláblá” e o Dario dizia que a Bondade, a Sabedoria e a Força estão dentro de nós e não são NOSSAS como, digamos, um MP3 pode ser NOSSO, mas são energias que andam por aí, pelo universo, subterrâneas e que os seres humanos, como construtores de sua própria realidade, podem trazer para o plano material, para esse mundo em que vivemos.
Claro que eu tive que me meter na conversa! No domingo, acordei cinco e meia da manhã e fui para o terraço do sobradinho onde moro com minha filha. Fui ver o nascer do sol, fiz exercício, tudo com uma música imaginária de fundo (para os curiosos era a trilha sonora de O Feitiço de Áquila). Fiquei lá vendo o sol nascer e sentei um pouco para meditar sobre tudo que andava lendo. Respirei fundo, deixei que os pensamentos passassem sem procurar retê-los ou afasta-los, observei que minha mente estava inquieta, meu coração sobressaltado e meu corpo tenso. Relaxei lentamente. E perguntei bem pro fundo de mim mesma: “Qual é o Sentido disso tudo?”.
E não é que entre leituras, respirações e concentração me veio uma resposta. Uma resposta em forma de imagem. Tentarei traduzir em palavras: O ser humano é como um pintor que escolhe as tintas com que trabalha. Pode trabalhar com tintas de qualquer cor e cada tinta tem uma característica e produz um efeito nele. Pode trabalhar com a tinta da Paz e semeá-la, mas normalmente tem muito medo de desaparecer se o fizer, de ser menos de alguma maneira. Pode trabalhar com a tinta da Sabedoria, mas teria de abrir mão de “saber mais do que” para simplesmente saber. Pode também trabalhar com a tinta da Força que independe do resultado, a Força que se registra independente do que acontece pra lá ( pra fora de nós). Pode também ficar na base da argamassa, só consertando coisas menores e nunca chegando a colorir mesmo sua obra.
E nessa imagem nosso trabalho seria justamente navegar e ajudar a que outros naveguem essas energias internas tão poderosas e as expressem no mundo. Imagino rios subterrâneos de energias e a gente surfando nelas...Bem, pra mim funciona ! É subjetivo, lógico!
Daí o Dario ouviu, gostou e disse:
- Sabia que se a gente olhar com cuidado e buscar os momentos em que a gente estava fazendo alguma coisa em direção aos outros, sentindo-nos muito bem conosco mesmo, encontramos várias ações em nossas vidas que nos indicam nossa missão?
E o Gadotti respondeu:
- Claro! Encontrando nosso próprio sentido conseguimos apontar o sentido ao “quefazer” de nossos alunos!!!!
Já estavam agindo como amigos e infância, os dois!!!!
E Dario completou:
- O problema é que a gente espera que essas ações, esse momentos de sentido, que eu chamo de ações válidas, sejam momentos grandiosos, assim como em hollywood e na verdade são momentos super simples, mas que são muito profundos e alegres. Uma alegria tranqüila, não uma alegria com efeitos especiais, sabe?
Gadotti entendeu perfeitamente.
E eu também.
Eu entendi que quando as perguntas dele me feriam era porque eu esperava que em sala de aula esse “construir o sentido” fosse glamouroso, hollywoodiano, cheio de efeitos especiais e diálogos bem construídos. E não chega nem perto. Mas...é justamente essa necessidade de que seja tão “super-ultra” que nossos alunos sentem comparando a aula com a televisão. E é justamente isso que nos afasta do humano. E o humano, que é um materializador de sonhos, passa a ser um ser triste, cabisbaixo que pensa que as coisas vêm de fora, acontecem com ele, são tão injustas e que não há nada que ele possa fazer, quando, na verdade, é ele quem as projeta assim.
Enfim, eu entendi que ficava preocupada com as perguntas e não conseguia ver momentos de sentido em minha prática pedagógica anteriormente porque estava procurando do jeito errado. Procurando o tipo errado de coisa. Quando comecei a buscar simplicidade, encontrei: situações em que ajudei meus alunos, cumplicidade, tentativas de inovação, acertos, erros, medo, dias muito bons e muito ruins, mas, principalmente, encontrei pessoas que estavam tentando materializar as tais energias boas aqui na terra e, nem sempre conseguiam, mas estavam mesmo tentando.
Eu desejo que essas imagens emotivas guiem mais minha prática esse ano do que imagens cognitivo-intelectuais, que esses caras maneiros e cheios de idéias continuem conversando na minha cabeça e que eu encontre ( ainda não estou nem perto de saber como) uma forma de fazer tudo isso ensinando inglês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário