sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

2008 à vista: muito cansaço, esperança, sonhos e medos...

Se eu quiser fazer um balanço do ano de 2007 em nossa escola, pelo menos no que ele representou para mim, vou ter muitas dificuldades. Primeiro, a coisa ainda é super recente e o cansaço ( aquele cansaço de último bimestre, que começa lá em outubro e vai crescendo até o fim da recuperação e o último COC) não me deixa ter muita noção do todo.

Há algum tempo, conversando na coordenação com nossa querida colega Rosangela, diziamos que no final do ano a cabeça dá um salto e já começamos a imaginar o que e como fazer mudanças para o ano seguinte, fazer planos, repensar coisas, avaliar o que deu errado e o que deu certo. E estamos mesmo no momento de começar o namoro com o ano que vem e suas promessas ( sem ainda conseguir avaliar com clareza a nossa última relação, o ano de 2007).

Se é de futuro que se faz o mês de Dezembro, vamos a ele! O que eu quero ( por enquanto) pro ano que vem:
- incluir mais os alunos em minha aula, bolar meios de que eles se sintam cada vez mais construtores do que estão aprendendo.
- substituir a velha apostila por uma página de Internet.
- dar mais aulas no laboratório de informática e na sala de vídeo, além de pensar em decorações, utensílios e espaços criativos que possam ser facilmente montados e desmontados de acordo com o objetivo de cada aula.
- ouvir mais.
- ter mais paciência.
- conhecer mais meus alunos.
- repensar ( sempre) a forma de avaliar
- sorrir mais
- curtir mais
- fazer da aula uma experiência cada vez mais prazeirosa
- ser mais útil aos companheiros da área técnica que têm textos em inglês que precisam ser compreendidos
- estudar mais.

Gostaria de saber também o que meus colegas desejam e sobre isso estaremos conversando em breve.

Beijos 1000, Feliz Natal, Feliz Ano Novo, Feliz férias, Feliz Retorno!

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O Jeito Matemático de viver

Que a Matemática é uma das ciências mais importantes, todos nós sabemos. Uma ciência universal. Ou Seja, desenvolvida por todos os povos, em cada canto do mundo, antes mesmo de acontecer um “encontro” entre culturas diferentes. A Matemática que conhecemos hoje tem uma grande contribuição da civilização grega, mas com certeza tem influência de outros povos. Podemos responsabilizar a Matemática por grandes avanços da humanidade. A Matemática contribuiu (e contribui) para o desenvolvimento tecnológico e também para o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento. A essência da Matemática é generalizar e padronizar os fenômenos. Porém, além de tudo isto que foi dito (ou escrito), podemos ver, hoje em dia, a Matemática como um “modo” de vida. Essa é uma visão particular.

O estudo (ou a prática) de matemática nos traz ensinamentos muito importantes para a vida.
A prática de exercícios e a repetição são fatores importantes para nos dar mais confiança e autonomia para resolver, cada vez melhor, os problemas propostos. Problemas esses que podem ser matemáticos ou não. Esse ensinamento podemos levar para qualquer área da vida. O matemático quando não consegue resolver um determinado exercício, ele o tenta de outra forma. É muito importante olhar uma determinada situação por diversos ângulos. Não podemos nos “adestrar” a fazer as coisas somente de uma forma. A qualquer momento podemos nos deparar com uma situação diferente da que estamos acostumados a resolver.

Pode parecer bobo, mas a prática de matemática pode diminuir bastante os preconceitos existentes nas pessoas. Por exemplo, a matemática é uma ciência exata, mas podemos tomar caminhos diferentes para resolver determinados problemas e mesmo assim chegarmos na mesma resposta. É claro que esses tais caminhos devem estar dentro das regras matemáticas. Podemos dizer que o objetivo de todas as pessoas é ser feliz. E cada uma vai escolher para si uma maneira diferente de ser e viver. Mas no final todos querem ser felizes. Portanto nessa questão não pode existir o que é certo e o que é errado, pois o importante, no final, é ser feliz. A matemática já nos mostrou, por muitas vezes, que devemos tomar cuidado com as nossas intuições. Nem tudo é o que parece ser. O estudo de Lógica deixa claro que nem todas as afirmações são verdadeiras. É óbvio que esse cuidado com as afirmações não é uma coisa exclusiva da matemática. Esse é mais um ensinamento que devemos trazer para nossas vidas.


Além de uma ciência, a Matemática pode ser vista também como um modelo de vida. Isso mesmo. Um modo de vida matemático onde as pessoas vão criar o hábito de pensar, vão tentar solucionar os seus problemas, buscar novos caminhos, tomar muito cuidado com as afirmações e intuições feitas. A matemática teve importante papel no desenvolvimento tecnológico e pode ter também um papel de destaque na construção de um novo ser humano. Um ser humano melhor. O Homem também tem que evoluir. Para podermos construir sociedades melhores. Uma sociedade com base nos ensinamentos matemáticos.

Wellington Serra

terça-feira, 21 de agosto de 2007

CAOS

A situação nos aeroportos brasileiros não anda nada boa. Não estou escrevendo isso só porque também fui vítima da desordem, mas sim pra relatar a falta de bom senso e o descaso no planejamento estratégico de algumas companhias aéreas e na atitude de alguns de seus funcionários, o que nos dificulta ainda mais dentro de todo esse tumulto.

Com viagem marcada para a cidade de Contagem –MG no dia 23/07/2007, cheguei ao aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, às 17:00 h. O meu vôo estava marcado para às 18:00h. Com o aeroporto completamente lotado, muitas pessoas desesperadas com vôos atrasados ou cancelados, outras já tinham perdidos os seus vôos, e haviam também delegações do Pan-americano com vôos desmarcados, repórteres procurando pessoas que estavam enlouquecidas com a situação e prontas para desabafar e colocar na mídia toda a sua raiva. Entrevistaram até uma garotinha que estava chorando porque perdeu o seu vôo. Uma loucura. Por falar na imprensa... ela está muito interessada nesse caso. Quero lembrar que também vivemos um caos nas ruas, rodovias e estradas brasileiras e eu nunca vi a imprensa tão presente assim. Sabemos que não temos nenhum investimento no transporte ferroviário, que é mais barato, mais rápido e menos poluente. Sabemos também que existem inúmeros acidentes nas ruas das grandes cidades e nas estradas. E eu nunca vi a imprensa dar tanta importância assim. Mas isso é uma coisa pra ser discutida em um outro momento.

Voltemos ao caos aéreo... Fui procurar, no meio de todas aquelas pessoas, onde eu poderia pegar as minhas passagens. A empresa responsável pelo meu vôo era a “GOL LINHAS AÉREAS”. Enfrentei uma fila enorme só para pegar a passagem. Assim que a obtive, perguntei ao rapaz do guichê se ele tinha alguma previsão do horário de chegada do meu vôo. Ele me disse que o vôo estava atrasado e que a previsão de chegada do avião ao aeroporto do Rio de Janeiro era às 20:30.

Para não piorar a situação, me mantive calmo e fui procurar um lugar para sentar e descansar, ler um livro, acessar a Internet, ou seja, fazer a hora passar. Aproveito para dizer que eu não estava sozinho nesse episódio. Minha companheira de trabalho, Sabine, também passou por tudo isso e graças à ela eu puder ter momentos agradáveis no meio de tanta confusão. Quando foi por volta das 20:00h, nós tentamos passar para a sala de embarque e não nos deixaram passar. Nos disseram que nenhum passageiro da “Gol” estava podendo embarcar. Como a situação parecia que não ia melhorar nem tão cedo, fomos comer alguma coisa e conversar mais um pouco, ou seja, novamente fomos fazer a hora passar. Voltamos ao local de embarque às 20:00h e, felizmente, dessa vez nos deixaram passar. Assim que passamos pelos detectores de metal, o auto falante estava anunciando que era a última chamada para o nosso vôo. Corremos em direção ao portão R1 e novamente era anunciada a última chamada do vôo 1746. Chegamos no portão às 20:30h e ele estava fechado. Do outro lado do portão de vidro a funcionária da “Gol”, Marjory, disse que o avião já tinha saído e não tinha mais como embarcar naquele vôo. Eu pensei comigo mesmo como a Gol é pontual. O vôo estava marcado para 20:30h e não atrasou nenhum segundo. O curioso foi que, ao mesmo tempo que a funcionária nos dizia que o vôo já tinha partido, anunciavam novamente no auto falante do aeroporto que era a última chamada para o embarque do mesmo vôo que havia partido. Diante desta contradição ela nos explicou que o vôo já tinha partido com 80 pessoas, pois a companhia aérea preencheu o avião com passageiros que embarcariam no vôo seguinte para desafogar o tráfego aéreo. Por isso o avião não podia atrasar nenhum minuto mais.

Muito pior foi a situação do senhor Luís que passou pelo mesmo problema que a gente, mas com uma pequena diferença: as suas malas estavam no avião que havia partido sem ele. Conclusão: o vôo atrasou duas horas e meia e nós perdemos o vôo porque o avião não podia esperar nem dez minutos mais para avisar os passageiros que estavam faltando.

Ou seja, para a Gol, não importa se tem passageiro que vai se atrasar para o trabalho ou qualquer que seja o compromisso.

Depois dessa situação, procuramos uma solução para o nosso problema. A funcionária Marjory nos disse que poderíamos embarcar no próximo vôo, aquele que teve alguns de seus passageiros com viagem antecipada. A previsão de chegada desse vôo era para as 22:00h. Sabine e eu esperamos até as 03:00h do dia seguinte para saber que o vôo 1732, que seria o que iríamos embarcar, foi cancelado. Saímos da sala de embarque novamente e fomos procurar uma outra alternativa, pois nós tínhamos que estar trabalhando em Contagem / MG às 8:00h. Depois de enfrentar muito tumulto, novamente conseguimos uma passagem para às 8:00h. Exatamente o mesmo horário que estaríamos começando o nosso trabalho. Por várias vezes passou pela minha cabeça que se a empresa tivesse esperado, ou dado um jeito de avisar os passageiros que o avião já estava em solo, eu não teria toda essa esquentação de cabeça. Quando o relógio estava marcando 7:00h, Sabine e eu entramos novamente na sala de embarque, com a esperança de embarcarmos no vôo anterior ao nosso, ou seja, queríamos fazer a mesma coisa que fizeram conosco. Mas assim que sentamos em frente ao portão de embarque para esperar o vôo, foi anunciado que o vôo 1880 com destino a Belo Horizonte estava com três horas de atraso. Mesmo se conseguíssemos embarcar num vôo anterior ao nosso, chegaríamos ao nosso destino com mais ou menos umas cinco horas de atraso. Sem saber o que mais iria acontecer, e muito cansados, nós resolvemos entrar em contato com outros companheiros de trabalho e tentar marcar o nosso compromisso em Contagem em um outro momento. Mas fica uma pergunta, quem nos garante que na próxima que tentarmos viajar(a trabalho,ou não) não passaremos pela mesma situação?

Wellington Serra

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Minha experiência na net...

De uns tempos pra cá parece que a minha vida tem me levado a la Zeca Pagodinho a um contato cada vez mais amplo com a web e o mundo dos computadores em geral. Fã de qualquer ferramenta que represente: a) um desafio e b) uma oportunidade, eu já fui contra os computadores e a suposta desumanização que causariam ( como se nós precisássemos de ajuda para desumanizar alguma coisa !!!!)
Bem, tem sido uma aventura cheia de surpresas. A primeira foi descobrir a net como fonte de consumo compulsivo de informação. Vejam bem, não digo que isso seja bom, conto somente como aconteceu comigo...Em seguida, virei professora de inclusão digital e tive de rever todos os meus primeiros passos no computador e relembrar das inseguranças sentidas, sentia eu, há séculos atrás. Depois virei formadora de professores nessa área de inclusão e descobri em uma aula com um colega que a Internet tinha uma base física. Eu não tinha noção de que entrar na Internet era ter acesso a arquivinhos em outros computadores e que cada coisa que eu fazia era um arquivinho em algum computador. Quando eu descobri ( no mesmo dia, por sorte ou azar) que os chamados servidores de Internet nada mais eram do que computadores ligados o tempo inteiro abrigando e facilitando a transferência de vários arquivinhos...entrei em choque ! Sim...
Eu sei. Patético.
Eu imaginava a Internet como uma coisa assim mítica, sei lá, uma nuvem de informação...O virtual era um mundo de bits e bites diferente do meu. Descobrir que tudo isso estava em algum lugar, alguma base sólida, física, acabou comigo. Para mim, ainda parece estranho dizer essas coisas...quase como se eu ainda não acreditasse...tenho até medo de ter entendido errado.
Porque decidi comentar isso tudo em resposta a minha amiga Denise ?????
Porque eu sou da geração do mito. E sou uma educadora. Vejo que meus alunos não encaram as coisas da mesma maneira. Eles não são da geração do mito. São uma geração mais humana ( sim, mais humana!) e logo me explico:
Quando eu estudava o professor era um mito. Eu sentia um orgulho mortal quando um de meus professores me contava algo sobre sua vida pessoal ou quando eu o surpreendia em uma conversa íntima ( para mim era quase como ter acesso a fofocas de uma celebridade...notem que eu disse quase, porque as celebridades do cinema ainda estavam em primeiro lugar ! rs).
Quando eu estudava, o conteúdo era um mito. Algo para iniciados, adquirido a partir de muito esforço e repetição. A arte de saber o que o professor-mito desejava de mim era sacrossanta e a ela dediquei muito de meus estudos ( não digo tudo, porque talvez rs pegasse mal para quem lê e eu quero agradar ! :)
A informação era um mito, bem como a comunicação. Custosas e provenientes de muita dedicação e negociação ( minhas contas de telefone ao longo da adolescência que o digam). Entrar em contato era um mito, um evento.
Hoje, meus alunos não me vêem como um mito, mas como um ser humano. Suas celebridades estão próximas ( já repararam como as referências deles são cada vez mais pessoas de suas comunidades, para bem ou para mal?). Comunicar-se chega a ser instantâneo, como diz o nome do MSN, e toda a preparação de "será-que-eu-ligo-ou-não-ligo-visito-ou-não-visito-porque-não-quero-incomodar" se reduz a responder ou não uma telinha que pisca. Devo confessar que eu ainda me sinto mal deixando piscar a tal telinha...mas meus alunos não : comunicar-se não é mais um mito! Na sala de aula eu sou quase uma telinha que pisca: eles me dizem o que querem dizer, como querem dizer, na hora em que querem dizer, sem nenhum "RESPEITO" falsamente articulado. É um novo conceito de etiqueta. Se eu estou parada em frente a eles, estou online e eles podem me requisitar ( inclusive simultâneamente) a qualquer momento...A aula é um hipertexto ambulante...e eu, bem, eu...hoje dei aula e pedi um pouco de silêncio ( e fui acatada) porque não estava conseguindo pensar com tudo aquilo acontecendo...
O que eu faço com meus mitos há tanto tempo acarinhados? Os mitos que fazem parte de quem eu sou?
Bem...
Minha primeira estratégia foi "ir a luta". Violentá-los ou violentar-me ( nada físico, eu juro!)...Afinal de contas, educadores ou não, essa é uma sociedade violenta e as vezes a gente simplesmente não sabe agir de outra maneira...Não somos perfeitos, não é ? Ao violentá-los tentava impor uma vida mítica, um respeito distante, uma comunicação exageradamente custosa. Ao violentar-me tentava embarcar na onda hipertextual e muitas vezes colocando meus alunos como aqueles que estavam certos...
Como mediar isso, já que alguns nos descrevem como mediadores???
Bem, eu acho que nessa coisa de incluir a tecnologia, de termos computadores em sala, de pensarmos na formação do professor, vou ter que aprender a ouvir. Ouvir essas crianças falarem sobre meus mitos e darem pontos de vista aos quais não estou acostumada. Ouvir sobre seus valores e acreditar ( até se prove o contrário) que meus alunos dizem a verdade ( com muito mais facilidade do que eu, às vezes...)
As atividades para OLPC, os formatos, até mesmo a luta política pela implementação em cada escola...porque não incluir os alunos nisso? Eles podem criar coisas muito mais interessantes do que eu - ser mítico tatibitante - nessa onda hightech de arquivinhos compartilhados...
Por que não perguntar a eles como fazer ? Convidá-los para nossos encontros? Pedir ajuda na requisição dos computadores? Sugerir que eles se mobilizem?
Veja bem, não estou dizendo que não há espaço para o mito. Eles certamente têm os deles...Talvez fosse bom perguntar quais são, pois esses serão os desafios de seus filhos.
Acredito que, para que toda essa nossa proposta de inclusão dar certo, é muito necessário que eu me reconcilie com essa minha visão mítica das coisas e compreenda que sou um passo em direção ao que veio depois ( se é que me explico). assim, não fingirei ser quem não sou e pedirei ajuda aqueles que têm na veia esse mundo virtual ( essa nova geração) e ensinarei o que posso:
" O que fazer quando você quer avançar e suas crenças te fazem empacar?" - porque isso é uma coisa que mesmo as novas gerações não sabem. Nem eu. Nem ninguém. Mas enfim...é um conhecimento a ser co-construído, não?
Espero não ter filosofado demais!BjsSabine

domingo, 24 de junho de 2007

Uma escola "diferente".

Olá amigos professores,
para inaugurar minha participação no nosso blog colocarei em debate o que nós pensamos sobre educação. Será que estamos fazendo o certo? O que é certo? Existirá um fazer correto? Pois bem também estou a procura destas respostas! Dêem uma olhada neste site de uma escolinha do interior de Portugual. Sei que vivemos em uma realidade diferente, mas será que uma forma de percepção não é possível para nós? Bom gostaria de discutir isso com vocês amigos... talvez possamos pensar uma escola mais agradável para nossos alunos.

http://www.eb1-ponte-n1.rcts.pt/html2/portug/bemvindo.htm

Nota: Não estou sugerindo que copiemos um modelo, mas sim repensarmos o nosso!
Um abraço!

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O que é que a gente tem a ver com isso?

Média do Enem deste ano é a pior desde 2002


Os quase três milhões de estudantes que fizeram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) este ano tiveram, na parte objetiva, média de 36,90, a pior desde 2002 e 10 pontos inferior a 2003. Em nenhum dos Estados a média de acertos passou de 40%. Em redação, o resultado, como é recorrente, foi melhor que na prova objetiva, mas também caiu em relação a 2005 e só é maior que em 2004, quando a média foi, pela primeira vez, inferior a 50 pontos.

O Ministério da Educação afirma que não é possível comparar um ano do Enem com o anterior, já que a prova é voluntária e a amostra termina por ser diferente. Mas, com três milhões de pessoas candidatos a uma vaga no ensino superior, é possível se dizer que esses estudantes sabem menos do que deveriam depois de terminar a escola básica.

Mais significativo, os alunos chamados de egressos - que terminaram o ensino médio há mais tempo - tiveram resultados melhores do que estudantes concluintes, que ainda têm frescas na cabeça as matérias ensinadas na escola. "Pode ser que esses egressos já tenham feito algum curso, entrado na faculdade", diz Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas em Educação (Inep).

"O que acontece é que se perdeu o foco na educação básica e na aprendizagem dos alunos", diz o deputado Paulo Renato Souza (PSDB), ex-ministro da Educação. "O conjunto de resultados mostra uma deterioração, um retrocesso no ensino que é preocupante".
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Onde estão os nós?


É um quadro lastimável que os resultados das avaliações nacionais nos apresentam.

E isso reflete, sim, lá na frente, na falta de preparo do trabalhador, mas antes disso, esse quadro reflete o descompromisso da sociedade não apenas com a Educação, mas com ela própria.

Se quisermos entender um pouco desse processo, não podemos descontextualizar a Educação de todo o resto.

Quando pergunto onde é que está o nó, seguido de por que é que os professores pararam de ensinar, é porque tenho localizado esse "fenômeno" nos anos 80 pra cá.

Justamente quando os processos de desenvolvimento se aceleraram e as desigualdades foram ficando mais marcadas e marcantes.

A universalização da escola pública - trazendo pra dentro dela, obrigatoriamente, todas as crianças de 7 a 14 anos - começou nos anos 70, se consolidou nos 80, e encontrou professores completamente despreparados para lidar com essa realidade. As turmas de crianças limpinhas, bem alimentadas e com família estável, foram dando lugar a turmas de crianças sem referência familiar, sem alimentação adequada e sem noções básicas de "integração na estrutura social". Notem que em nenhum momento estou falando de crianças menos inteligentes ou com pouca capacidade de aprendizagem.

Mas, como disse antes, esse quadro não pode ser visto de maneira desvinculada do contexto sócio-econômico que também se apresentava nesse momento. Acabávamos de descobrir que o milagre econômico não existia, emburacávamos numa das maiores crises já vividas, traduzidas em desemprego em massa; além das famílias, também da classe média, começarem a desmoronar em todos os aspectos. Casamentos desfeitos passam a ser a tônica. A crise ética na política também começa a ficar mais evidente. Há correntes de estudiosos que afirmam, inclusive, que foi um período de pouca criatividade artística e cultural. O acesso às drogas também começa a se "naturalizar". E a corrida tecnológica avança enlouquecidamente. Não há lideranças e muito menos preocupação em formar novos líderes.

Viramos um país à procura de identidade.

E a escola? Completamente à parte disso tudo, continua a agir com o mesmo modelo do fim do século XIX e início do XX. Não sabe como se inteirar/integrar nessa realidade e ignora o contexto. E, parece, continua ignorando...

Junte-se a isso tudo, o descaso com a infra-estrutura educacional, o surgimento de inúmeros modismos pedagógicos importados e as relações de poder completamente corrompidas dentro e fora das instituições escolares.

Nesse momento, o professor, sem formação adequada (muitos, leigos, por esse Brasil afora), sem atualização profissional, sem salário digno, sem apoio pedagógico, sem, sem, sem... vai se tornando um profissional que não sabe mais de si mesmo, perdendo também a sua identidade, sem saber pra onde ir.

E pára de ensinar! Não porque quer, mas porque não sabe mais como, nem pra quê! Ele próprio passa a acreditar que não vale a pena investir "em quem não quer nada..." ou "que esse menino não vai ser nada na vida mesmo..."

Nossos professores desistiram dos nossos alunos, porque não aprenderam a lidar com a diversidade. Ainda são "preparados" para dar aulas para alunos ideais, interessados e obedientes, criados a danoninho, sustagem e leite ninho...

A escola vira um depósito de crianças e jovens, um onde ninguém mais quer estar. É ruim pra todo mundo.

E a escola insiste nas práticas tradicionais, desconhecendo todo o processo de mudança que vem ocorrendo continuamente e, quando percebe que precisa mudar, não sabe pra que lado ir, porque não está acostumada a pensar, só a cumprir ordens e medidas autoritárias, e portanto tem medo de ousar. E, pior que tudo, não tem um projeto de sociedade para tentar alcançar. Não tem metas, não tem utopia.

Quanto às questões disciplinares, situações de violência vivenciadas nas escolas, aprovação/reprovação, podemos continuar afirmando que não podem ser vistas de maneira descontextualizada. A escola não é um oásis no meio do deserto (embora até seja para alguns alunos), ela é produto do que acontece do lado de fora. A diferença é que ela não pode/deve reproduzir as atitudes do exterior, mas deve ter a preocupação de formar cidadãos para modificá-lo. E isso não está feito, não tem receita pronta. É construir no próprio caminhar.

Estamos diante de uma grande oportunidade de virar esse jogo, através do Projeto OLPC, que tem tudo para criar ânimo novo nos educadores, dando fôlego a quem precisa e apontando para uma escola que ensine e para professores e alunos que se percebam construtores de conhecimento.

domingo, 22 de abril de 2007

Fiquei com vergonha


Enquanto isso... lemos no suplemento Megazine, do O Globo, dessa semana (17/04/07): duas páginas falando de como os indígenas estão utilizando a internet, tanto para se comunicarem, divulgarem sua cultura, como para aprenderem espanhol, por exemplo; mostrando como homens e mulheres podem se beneficiar da tecnologia dos computadores, nos lembrando a idéia primordial de que toda tecnologia é criada para servir ao ser humano.

Em seguida, somos nocauteados, com uma reportagem que conta como alguns colégios particulares aqui do Rio estão preparando os meninos e meninas do Ensino Fundamental para o Vestibular!!!! Com testes simulados aos sábados, para já irem treinando... desde a quinta série!

É a instituição escolar torturando cada vez mais cedo!

O que é isso, professores???

Como é que pessoas teoricamente preparadas para lidar com crianças e jovens nas escolas conseguem defender essa idéia? O que está acontecendo? Perdemos completamente a razão?

Estamos esquecidos do nosso papel de educadores? O papel da escola se resume a isso? Preparar para o vestibular? Quer dizer que o certo, que a coisa boa a se fazer é adestrar nossos jovens cada vez mais cedo?

Ou seja, ao invés de combatermos um sistema que é injusto, incoerente e massacrante, nós o fortalecemos, com a desculpa de que estamos preparando os jovens.

Não acredito que professores comprometidos com o exercício da cidadania de seus alunos, preocupados com a formação de pessoas de bom caráter, interessados em construir conhecimento e a autonomia com esses jovens concordem com esse esquema de trabalho.

Que equívoco, professores, que equívoco!

Será que nem os resultados do ENEM fazem os professores perceberem que esse esquema não dá certo? O ENEM pressupõe que os alunos estejam aprendendo a pensar, articulando conhecimentos de áreas variadas e que saibam criar argumentos para defender suas idéias através da linguagem escrita.

A UERJ e a UFRJ – cada uma a seu modo - também esperam alunos pensantes, que escrevam com desenvoltura, e não alunos que decorem esquemas e técnicas.

E o que se faz é tentar enquadrar isso num modelito que sirva para todos, criando turmas especialmente adestradas para responder questões supostamente pré-formatadas.

E, por favor, não me venham com a história de que estamos atendendo os anseios dos pais ou que estamos preparando para o futuro.

Escola não é curso preparatório! Escola não é lugar para manutenção e confirmação do que não é bom. Escola não pode ser excludente.

Nós, educadores, somos responsáveis pelo debate e pelo esclarecimento pedagógico do que deve ser feito na escola. E escola é lugar de formar gente em suas potencialidades e diferenças.

Escola é lugar de compreender e aprender para o mundo que estamos vivendo agora, e não para um futuro que sequer sabemos qual será.

Escola é lugar de se pensar alternativas para melhorarmos o que não está bom, de se aprender a lutar pelo bem estar coletivo.

Escola é lugar de formamos pessoas para respeitarem-se umas às outras, para serem solidárias, justas e dignas.

Escola é lugar de ampliar e produzir conhecimentos.

Escola é lugar de transformação.

E se a sociedade está do jeitinho que está, cheia de gente “sabida e esperta, que só sabe levar vantagem em tudo”, é porque temos formado gerações e gerações, sem nos preocuparmos com as transformações necessárias, preocupados que somos com a manutenção de uma coletividade perversa, que já se mostrou suficientemente incapaz de acolher os verdadeiros valores da vida humana.

Os grandes pensadores-educadores desse país, que pensaram uma escola que dignificasse o ser humano, como Paulo Freire e Darcy Ribeiro, devem estar revirando no túmulo.

Se os colegas não considerarem nada disso como relevante, que pensem em suas vidas de estudantes e lembrem-se da tortura das “semanas de provas”, da angústia e da ansiedade que elas causavam e, pelo menos, reflitam sobre os motivos de estarmos até hoje reproduzindo essa situação e, pior, antecipando nas vidas de nossos alunos esses momentos doentios.

Convenhamos, isso não faz bem a ninguém.

Cadê os educadores dessa cidade? Por favor, apresentem-se, pra eu não morrer de vergonha.





sexta-feira, 30 de março de 2007

Inclusão Digital e ensino instrumental

Pensando essa coisa da inclusão digital e o ensino de língua estrangeira...Uma das primeiras coisas que ensinamos em inglês para uma compreensão instrumental são as noções de skimming e scanning. Skim é o que se faz quando se retira a nata do leite. Ler skimming é buscar fatos concretos - nata - a data do nascimento de alguém, nomes, idades, etc. Ler scanning tem a ver com o equipamento do computador ( transforma todo o texto em uma figura digitalizada - é ler em geral, digamos assim).
Estava dando aula para nosso primeiro ano e apresentando esses conceitos. Chegamos a uma discussão muito interessante : hoje em dia, até mesmo por conta do uso da Internet, estamos em uma era de skimmings. Abro uma janela atrás de uma informação que me leva a um link que me leva a outro etc...sempre tendo como linha aquilo que me será útil naquele momento. Conversamos sobre como é importante esse recurso, sobre como as pessoas com menos prática de Internet ainda não o dominavam, dissemos que isso também era uma forma importante de leitura.E aí, falando de scanning,eis que se chega a uma conclusão: falta scanning na nossa vida. Falta ver o todo, falta nos aproximarmos das coisas sem necessariamente termos uma utilidade pré-concebida para elas ( ao menos não sempre). Curtir a leitura e observar o panorama geral. Ver o contexto...
Bem, aí passamos a falar de pessoas, de como as vezes nós skim as pessoas e não as scan. Não aprofundamos: tiramos dela o que nos parece útil. Realmente gostei da discussão que me levou a pensar sobre inclusão e vida. Incluir é uma atitude, pressupôe aprofundar em algumas coisas, pressupôe construir contextos, interpretações e crenças próprias acerca da sociedade que nos cerca. Para mim a inclusão digital sem essa perspectiva humana é somente imposição de mais uma realidade tecnológica sem base ( como todos os comentários anteriores tem sugerido).
E tem outra coisa: Tenho lido muito acerca de quem é o professor digital - profissional do futuro - que dá mil aulas presenciais e virtuais e está sempre plugado. Acho toda essa imagem muito divertida, mas novamente fugimos do ponto. Se por um lado ainda temos muito o que superar em termos de "nos incluirmos" na era digital, por outro, nada disso vale sem a velha discussão de que professores queremos ser.Toda ferramenta tem seu objetivo e o sentido maior é construção nossa

quinta-feira, 29 de março de 2007

A aula incrível e maravilhosa - usos e conseqüências

Tem sido recorrente em nossas reuniões na escola, em conversas informais e intercâmbios pela lista o tema de que não basta dar uma boa aula, temos que pensar na melhor aula possível - aquela que no título chamei de incrível e maravilhosa. Eu particularmente adoro este tipo de proposição, feita com garra e com paixão. Me encanta em nossa escola a possibilidade de romper limites a todo momento. A cena que me vem a cabeça ( e quem me conhece sabe que comparações com filmes são inevitáveis) é a do professor como um herói, como aquele que sacode a poeira, arma-se de uma lança ( que seria um livro e/ou uma apostila), de coragem e de desenvoltura com o objetivo de que o aluno saia da aula diferente, que tenha processado alguns conteúdos internos ( conteúdos esses que estão além da disciplina em si). Cabe esclarecer ( ainda mais em tempos informáticos) que, para mim, processar não é assimilar ou receber passivamente, e sim dar início a um processo. Dar início a algo que não acaba em 50 minutos ou 1h e 40. Colocar-se em processo, em dinâmica...

Foi essa reflexão que me fez pensar em Duna ( de Frank Herbert) que começa com a seguinte frase: "O princípio é um momento muito delicado". Pena que a gente as vezes só consiga enxergar um tempo linear de antes-e-depois, porque na verdade todos estamos, o tempo todo, processando. Então, a cada aula espero despertar algo, em meio a um despertar que começa antes mesmo da aula começar. Se, na minha aula, desperta um processo que culminará na de química, não há como saber de verdade. Nada é linear. Melhor seria dizer que na minha aula há tantos processos quantos são os interesses e descobertas de cada aluno e isso, bem, isso é muita coisa...

Mas tenho essa sensação de que inícios são mesmo delicados. O início da relação com uma turma, o início de uma nova matéria, o início de um novo teste metodológico, o início do dia de trabalho, o início de uma desconfiança, o início de uma grande alegria. Se o tempo é esse brinquedo em que moramos e que a todo momento subvertemos, não tenho acesso ao processo de nenhum aluno, mas posso acompanha-lo, acarinha-lo e fazer-me presente.

Para mim a aula incrível e maravilhosa não é linear: o que hoje converso com um aluno pode culminar em um projeto daqui a um ano. A aula incrível e maravilhosa pode durar cinco minutos e estar representada por um momento em que todos cantamos ou nos permitimos rir de nós mesmos. Pode ser fora da aula, em uma reunião para resolver um problema sério que só apareceu porque houve uma aula não tão maravilhosa. A aula incrível e maravilhosa pode ser um dia em que todos estamos em sintonia e pode ser, também, tecnicamente maravilhosa ( atualizada, didaticamente correta, envolvente, etc.)

Uma grande amiga um dia me disse quando eu lhe perguntava como poderia envolver mais as pessoas em um projeto, fazer com elas o que foi feito por mim em reciprocidade: "Sabine, como você pode fazer algo que não sabe fazer? Você nesse momento está faznedo o melhor que pode."Eu achei simples e genial. A aula maravilhosa é uma busca e cada aula é maravilhosa desde que não esqueçamos de buscar suas maravilhas e apontar sempre além.Ás vezes é como "Coração Valente" você ter uma lança no estômago e gritar "Liberdadeeee!!!!" e converter um momento ruim. Ás vezes é como uma comédia romântica na qual as dicas de que tudo vai dar certo ficam espalhadas em meio a muitos mal-entedidos.Ás vezes é Roger Waters e um show impressionante. E às vezes, essa aula maravilhosa, é como um filme contemplativo norueguês: uma paisagem, uma reflexão e o tempo escorrendo leeeeeeeeeennnnnnntooooooooo....

quarta-feira, 21 de março de 2007

Sobre política e jardinagem

Sobre política e jardinagem

Rubem Alves

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer chamado. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um ‘fazer’. No lugar desse ‘fazer’ o vocacionado quer ‘fazer amor’ com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.

‘Política’ vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu ‘o que é política?’, ele nos responderia, ‘a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas’.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.

Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.

Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.

Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: ‘Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade... Ao contrário dos ‘legítimos’ políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem.’ Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.

Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?

Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.

Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Sobre todas aquelas coisas que “temos que” fazer

Sobre todas aquelas coisas que “temos que” fazer

Por Sabine Mendes

Professora de Inglês – Colégio Graham Bell

Tudo começou em uma reunião pedagógica de início de ano na qual soubemos que “tínhamos que” começar a nos comunicar mais. Apresenta-se a idéia de ter um blog onde “temos que” começar a postar textos e começar a mostrar nossa cara para o mundo. A experiência de dar aula é rica em si, em qualquer situação, dar aula em um lugar onde me sinto construindo algo para o futuro é mais ainda. Eu tinha que escrever sobre isso porque tínhamos que nos comunicar, tínhamos que conseguir fazer mais coisas práticas e tínhamos que mostrar nossa cara ao mundo. É claro que não é como se alguém tivesse colocado uma faca em meu pescoço sugerindo que eu fizesse isso e acabei pensando que não seria tão ruim, que era uma decisão minha mesmo escrever. Eu tinha que escrever mesmo!

Sentei em frente ao computador depois de uma aula de ginástica (argh !), sentindo os ossos moídos e transformados em pasta para canapés. Tinha que fazer mil outras coisas como: ligar para minha mãe, combinar horários de quem iria ficar com a minha filha enquanto trabalho depois que as aulas começarem, arrumar a casa e terminar de escrever minha dissertação. Porém, entre a dissertação em sua nonagésima quinta versão e um texto novo para o blog, me parecia mais fácil fazer o segundo e como “tinha que fazer”, comecei a pensar em um tema.

Foi quando surgiu aquela sensação. Uma sensação de que eu estava perdendo alguma coisa importante no processo de escrever. Uma sensação de ansiedade e com o peso de todas as outras coisas que a gente costuma achar que “tem que” ser: excelente mãe, professora, cozinheira, poeta, entre outros. Lembrei de que várias vezes o que eu “tinha que” ser ou fazer atrapalhava o que eu estava fazendo. Não dá pra sentir prazer se a gente começa a pensar no que “tem que”. Então, relaxei, dei uma volta (pela minha casa, busquei algo pra beber) e comecei a pensar nas minhas aulas.

Às vezes, eu entro em sala com uma idéia, um planejamento e confiança na proposta que estou seguindo. Nesses dias “iluminados” minha aula flui de um jeito incrível, parece que o universo conspira (por universo quero dizer alunos e tempos de 50 minutos! rsrsrsrs). Nesses dias subo as escadas da escola com a sensação de que é ótimo estar com meus alunos, descobrir coisas novas com eles e que ensinar só tem sentido se aprendemos alguma coisa enquanto ensinamos (coisa em que acredito há alguns anos!). De alguma maneira, estou aberta a todas as possibilidades e não consigo entender ensinar sem aprender. São meus melhores dias!

Outras vezes eu entro em sala com tudo que “tenho que” fazer. Tenho que cumprir a matéria, o programa, tenho que mostrar a importância de minha disciplina, tenho que mantê-los interessados, tenho que fazer muitas coisas.... Em geral, coisas burocráticas. E aí nada funciona. Não consigo fazer nada do que tanto tinha que fazer. Em dias piores, estou em sala pensando em coisas que tenho que fazer fora dela e em dias piores ainda estou em sala pensando em coisas que tenho que ser.

Tudo bem, tudo bem! Os acordos e a matéria são importantes (não estou dizendo que não são), mas eles fluem muito melhor quando não fazem parte desse grupo de coisas que tenho que fazer. Quando consigo dar a eles um tom de novo, porque, de alguma maneira eles não são o mais importante de minha aula.

Aí eu descobri duas coisas muito importantes: que eu preciso sempre reinventar o que faço e estar fazendo o que estou fazendo – estar ali, presente, curtindo aquele momento. E descobri, em segundo lugar, que faço muitas coisas da minha vida porque “tenho que”. Como a gente não deixa os hábitos de uma hora pra outra resolvi duas coisas: 1ª tenho que buscar formas cada vez melhores de ter prazer no que eu faço e 2ª, tenho que aprender alguma coisa em toda aula que eu der (seja aprender algo sobre meus alunos ou sobre a própria matéria, com um olhar de pesquisador constante que ajuda a me colocar no presente e esquecer dos muitos “tenho que”).

Suspeito que se eu tiver prazer, meus alunos também terão (de alguma estranha maneira) e que se eu me colocar aprendendo, meus alunos também aprenderão alguma coisa. Afinal, nunca devemos subestimar o modelo forte que um professor é para um aluno em sala e, se eu estiver burocrática e chateada, é esse modelo de ser humano que estou transmitindo de alguma maneira.

Veremos logo se isso faz sentido! Ainda não consegui chegar ao estado zen de abandonar os “tenho que” e acho que uma dose moderada deles talvez não seja de todo ruim. Pelo menos, quero tentar “Ter que” fazer coisas cada vez mais legais, prazeirosas e desafiadoras.