sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Minha experiência na net...

De uns tempos pra cá parece que a minha vida tem me levado a la Zeca Pagodinho a um contato cada vez mais amplo com a web e o mundo dos computadores em geral. Fã de qualquer ferramenta que represente: a) um desafio e b) uma oportunidade, eu já fui contra os computadores e a suposta desumanização que causariam ( como se nós precisássemos de ajuda para desumanizar alguma coisa !!!!)
Bem, tem sido uma aventura cheia de surpresas. A primeira foi descobrir a net como fonte de consumo compulsivo de informação. Vejam bem, não digo que isso seja bom, conto somente como aconteceu comigo...Em seguida, virei professora de inclusão digital e tive de rever todos os meus primeiros passos no computador e relembrar das inseguranças sentidas, sentia eu, há séculos atrás. Depois virei formadora de professores nessa área de inclusão e descobri em uma aula com um colega que a Internet tinha uma base física. Eu não tinha noção de que entrar na Internet era ter acesso a arquivinhos em outros computadores e que cada coisa que eu fazia era um arquivinho em algum computador. Quando eu descobri ( no mesmo dia, por sorte ou azar) que os chamados servidores de Internet nada mais eram do que computadores ligados o tempo inteiro abrigando e facilitando a transferência de vários arquivinhos...entrei em choque ! Sim...
Eu sei. Patético.
Eu imaginava a Internet como uma coisa assim mítica, sei lá, uma nuvem de informação...O virtual era um mundo de bits e bites diferente do meu. Descobrir que tudo isso estava em algum lugar, alguma base sólida, física, acabou comigo. Para mim, ainda parece estranho dizer essas coisas...quase como se eu ainda não acreditasse...tenho até medo de ter entendido errado.
Porque decidi comentar isso tudo em resposta a minha amiga Denise ?????
Porque eu sou da geração do mito. E sou uma educadora. Vejo que meus alunos não encaram as coisas da mesma maneira. Eles não são da geração do mito. São uma geração mais humana ( sim, mais humana!) e logo me explico:
Quando eu estudava o professor era um mito. Eu sentia um orgulho mortal quando um de meus professores me contava algo sobre sua vida pessoal ou quando eu o surpreendia em uma conversa íntima ( para mim era quase como ter acesso a fofocas de uma celebridade...notem que eu disse quase, porque as celebridades do cinema ainda estavam em primeiro lugar ! rs).
Quando eu estudava, o conteúdo era um mito. Algo para iniciados, adquirido a partir de muito esforço e repetição. A arte de saber o que o professor-mito desejava de mim era sacrossanta e a ela dediquei muito de meus estudos ( não digo tudo, porque talvez rs pegasse mal para quem lê e eu quero agradar ! :)
A informação era um mito, bem como a comunicação. Custosas e provenientes de muita dedicação e negociação ( minhas contas de telefone ao longo da adolescência que o digam). Entrar em contato era um mito, um evento.
Hoje, meus alunos não me vêem como um mito, mas como um ser humano. Suas celebridades estão próximas ( já repararam como as referências deles são cada vez mais pessoas de suas comunidades, para bem ou para mal?). Comunicar-se chega a ser instantâneo, como diz o nome do MSN, e toda a preparação de "será-que-eu-ligo-ou-não-ligo-visito-ou-não-visito-porque-não-quero-incomodar" se reduz a responder ou não uma telinha que pisca. Devo confessar que eu ainda me sinto mal deixando piscar a tal telinha...mas meus alunos não : comunicar-se não é mais um mito! Na sala de aula eu sou quase uma telinha que pisca: eles me dizem o que querem dizer, como querem dizer, na hora em que querem dizer, sem nenhum "RESPEITO" falsamente articulado. É um novo conceito de etiqueta. Se eu estou parada em frente a eles, estou online e eles podem me requisitar ( inclusive simultâneamente) a qualquer momento...A aula é um hipertexto ambulante...e eu, bem, eu...hoje dei aula e pedi um pouco de silêncio ( e fui acatada) porque não estava conseguindo pensar com tudo aquilo acontecendo...
O que eu faço com meus mitos há tanto tempo acarinhados? Os mitos que fazem parte de quem eu sou?
Bem...
Minha primeira estratégia foi "ir a luta". Violentá-los ou violentar-me ( nada físico, eu juro!)...Afinal de contas, educadores ou não, essa é uma sociedade violenta e as vezes a gente simplesmente não sabe agir de outra maneira...Não somos perfeitos, não é ? Ao violentá-los tentava impor uma vida mítica, um respeito distante, uma comunicação exageradamente custosa. Ao violentar-me tentava embarcar na onda hipertextual e muitas vezes colocando meus alunos como aqueles que estavam certos...
Como mediar isso, já que alguns nos descrevem como mediadores???
Bem, eu acho que nessa coisa de incluir a tecnologia, de termos computadores em sala, de pensarmos na formação do professor, vou ter que aprender a ouvir. Ouvir essas crianças falarem sobre meus mitos e darem pontos de vista aos quais não estou acostumada. Ouvir sobre seus valores e acreditar ( até se prove o contrário) que meus alunos dizem a verdade ( com muito mais facilidade do que eu, às vezes...)
As atividades para OLPC, os formatos, até mesmo a luta política pela implementação em cada escola...porque não incluir os alunos nisso? Eles podem criar coisas muito mais interessantes do que eu - ser mítico tatibitante - nessa onda hightech de arquivinhos compartilhados...
Por que não perguntar a eles como fazer ? Convidá-los para nossos encontros? Pedir ajuda na requisição dos computadores? Sugerir que eles se mobilizem?
Veja bem, não estou dizendo que não há espaço para o mito. Eles certamente têm os deles...Talvez fosse bom perguntar quais são, pois esses serão os desafios de seus filhos.
Acredito que, para que toda essa nossa proposta de inclusão dar certo, é muito necessário que eu me reconcilie com essa minha visão mítica das coisas e compreenda que sou um passo em direção ao que veio depois ( se é que me explico). assim, não fingirei ser quem não sou e pedirei ajuda aqueles que têm na veia esse mundo virtual ( essa nova geração) e ensinarei o que posso:
" O que fazer quando você quer avançar e suas crenças te fazem empacar?" - porque isso é uma coisa que mesmo as novas gerações não sabem. Nem eu. Nem ninguém. Mas enfim...é um conhecimento a ser co-construído, não?
Espero não ter filosofado demais!BjsSabine

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