quinta-feira, 29 de março de 2007

A aula incrível e maravilhosa - usos e conseqüências

Tem sido recorrente em nossas reuniões na escola, em conversas informais e intercâmbios pela lista o tema de que não basta dar uma boa aula, temos que pensar na melhor aula possível - aquela que no título chamei de incrível e maravilhosa. Eu particularmente adoro este tipo de proposição, feita com garra e com paixão. Me encanta em nossa escola a possibilidade de romper limites a todo momento. A cena que me vem a cabeça ( e quem me conhece sabe que comparações com filmes são inevitáveis) é a do professor como um herói, como aquele que sacode a poeira, arma-se de uma lança ( que seria um livro e/ou uma apostila), de coragem e de desenvoltura com o objetivo de que o aluno saia da aula diferente, que tenha processado alguns conteúdos internos ( conteúdos esses que estão além da disciplina em si). Cabe esclarecer ( ainda mais em tempos informáticos) que, para mim, processar não é assimilar ou receber passivamente, e sim dar início a um processo. Dar início a algo que não acaba em 50 minutos ou 1h e 40. Colocar-se em processo, em dinâmica...

Foi essa reflexão que me fez pensar em Duna ( de Frank Herbert) que começa com a seguinte frase: "O princípio é um momento muito delicado". Pena que a gente as vezes só consiga enxergar um tempo linear de antes-e-depois, porque na verdade todos estamos, o tempo todo, processando. Então, a cada aula espero despertar algo, em meio a um despertar que começa antes mesmo da aula começar. Se, na minha aula, desperta um processo que culminará na de química, não há como saber de verdade. Nada é linear. Melhor seria dizer que na minha aula há tantos processos quantos são os interesses e descobertas de cada aluno e isso, bem, isso é muita coisa...

Mas tenho essa sensação de que inícios são mesmo delicados. O início da relação com uma turma, o início de uma nova matéria, o início de um novo teste metodológico, o início do dia de trabalho, o início de uma desconfiança, o início de uma grande alegria. Se o tempo é esse brinquedo em que moramos e que a todo momento subvertemos, não tenho acesso ao processo de nenhum aluno, mas posso acompanha-lo, acarinha-lo e fazer-me presente.

Para mim a aula incrível e maravilhosa não é linear: o que hoje converso com um aluno pode culminar em um projeto daqui a um ano. A aula incrível e maravilhosa pode durar cinco minutos e estar representada por um momento em que todos cantamos ou nos permitimos rir de nós mesmos. Pode ser fora da aula, em uma reunião para resolver um problema sério que só apareceu porque houve uma aula não tão maravilhosa. A aula incrível e maravilhosa pode ser um dia em que todos estamos em sintonia e pode ser, também, tecnicamente maravilhosa ( atualizada, didaticamente correta, envolvente, etc.)

Uma grande amiga um dia me disse quando eu lhe perguntava como poderia envolver mais as pessoas em um projeto, fazer com elas o que foi feito por mim em reciprocidade: "Sabine, como você pode fazer algo que não sabe fazer? Você nesse momento está faznedo o melhor que pode."Eu achei simples e genial. A aula maravilhosa é uma busca e cada aula é maravilhosa desde que não esqueçamos de buscar suas maravilhas e apontar sempre além.Ás vezes é como "Coração Valente" você ter uma lança no estômago e gritar "Liberdadeeee!!!!" e converter um momento ruim. Ás vezes é como uma comédia romântica na qual as dicas de que tudo vai dar certo ficam espalhadas em meio a muitos mal-entedidos.Ás vezes é Roger Waters e um show impressionante. E às vezes, essa aula maravilhosa, é como um filme contemplativo norueguês: uma paisagem, uma reflexão e o tempo escorrendo leeeeeeeeeennnnnnntooooooooo....

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