sexta-feira, 16 de março de 2012

Pílulas de Rubem Alves

“Sabedoria...” de Rubem Alves


> Segundo Nietzsche, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que a nossa alegria aumente. As crianças não vêem “a fim de”. Seu olhar não tem nenhum objetivo prático. Vêem porque é divertido ver.

> Educar é mostrar a vida a quem ainda não viu. O educador diz:”Veja!” – e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente. E, ficando mais rico interiormente, ele pode sentir mais alegria e dar mais alegria – que é a razão pela qual vivemos.

> Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação, Didática – mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar, ou à importância do olhar na Educação, em qualquer um deles.

> A palavra amor se tornou maldita entre os educadores. Envergonham-se de que a Educação seja coisa do amor – piegas. Mas o amor – Platão, Nietzsche e Freud o sabiam – nada tem de piegas. O amor marca o impreciso e forte círculo de prazer que liga os corpos aos objetos. Sem o amor tudo nos seria indiferente – indigno de ser aprendido, inclusive a ciência. Não teríamos sentido de direção ou não teríamos prioridades.

> Prova de inteligência não é possuir todas as ferramentas. É possuir as ferramentas de que se vai necessitar. Sabedoria oriental: “O tolo soma ferramentas. O sábio diminui as ferramentas.” O importante não é ter. É saber onde encontrar.

> A Educação se divide em duas partes: Educação das habilidades e Educação da sensibilidade. Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido.

> Os saberes – que os professores ensinam – nos dão meios para viver.
Os sabores – que os educadores despertam – nos dão razões para viver.

> Nunca houve tanta possibilidade de felicidade quanto agora. Aquilo que já sabemos chega para a gente fazer um paraíso na terra. E por que é que não o fazemos? Porque o conhecimento não basta. Sabedoria não se consegue com a soma de conhecimentos.

> “Formatura”: “formar” é colocar na fôrma, fechar. Um ser humano “formado” é um ser humano fechado, emburrecido. Educar é abrir. Educar é “desformar”. Uma festa de “desformatura”...

> Educação não é a transmissão de uma soma de conhecimentos. Conhecimentos podem ser mortos e inertes: uma carga que se carrega sem saber sua utilidade e sem que ela dê alegria. Educar é ensinar a pensar, isto é, brincar com os conhecimentos.

> A memória não carrega peso inútil em suas malas. Viaja leve. Leva sempre duas malas. Numa, estão os objetos úteis. Noutra, estão os objetos que dão prazer.

> Se o conhecimento científico fosse condição para se fazer amor, os professores de anatomia seriam amantes insuperáveis. Se o conhecimento acadêmico de gramática fosse condição para se fazer literatura, os gramáticos seriam escritores insuperáveis.

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Sobre Planejamento

Planejar é:

Elaborar – decidir que tipo de sociedade e de homem se quer e que tipo de ação educacional é necessária para isso; verificar a que distância se está deste tipo de ação e até que ponto se está contribuindo para o resultado final que se pretende; propor uma série orgânica de ações para diminuir esta distância e para contribuir mais para o resultado final estabelecido.


Executar – agir em conformidade com o que foi proposto.


Avaliar – revisar sempre cada um desses momentos e cada uma das ações, bem como cada um dos documentos deles derivados.


Planejar não é fazer alguma coisa antes de agir.

Planejar é agir de um determinado modo para um determinado fim.

O fazer e o modo como se faz decidem tudo. Desde que sejam respostas a necessidades concretas, descobertas por uma avaliação da prática, à luz das exigências do horizonte que se estabeleceu.

Quando se assume o Planejamento Participativo na escola, trabalha-se com objetivos e não com conteúdos.

Não é possível pensar que cada um de nós tem que ser um resumo da humanidade, sabendo tudo sobre tudo. Qualquer sociedade necessita de pessoas que, juntas, dominem todos os campos das ciências, da fé, da arte, da filosofia.... mas não é necessário que cada um de nós alcance tudo. A prática que tem este fundamento anula as possibilidades que as pessoas busquem atingir o melhor naquilo que é seu viver. Precisamos de esportistas, físicos, poetas, filósofos, matemáticos, geógrafos... mas todos não podemos ser tudo.

É fundamental que os profissionais passem a organizar-se e solidarizar-se em práticas comuns coletivas, em conformidade com projetos e objetivos também comuns, eliminando a tendência corporativa de proteção de espaços. E, nesse processo, é fundamental que o discente coloque-se como sujeito ativo, reflexivo e participante das transformações.

Fala-se muito em política educacional, mas não se tem consciência de que se faz política a todo instante, em nosso próprio ambiente de trabalho. Os profissionais não se apercebem de que podem reproduzir uma política de dominação no momento da escolha de um conteúdo, de uma forma de avaliação, na definição de seus objetivos. Não se apercebem de que essas escolhas definem relações pedagógicas que se encaminharão para um projeto político educacional – transformador ou não.

A organização do trabalho escolar apresenta-se como um fator determinante no atual processo de ensino. O desenvolvimento de uma proposta articulada com os interesses e necessidades dos alunos, com as questões evidenciadas no dia-a-dia da escola e com suas possibilidades e limitações, surge como uma dimensão central na busca de novas alternativas político-pedagógicas.


Fontes: “PLANEJAMENTO Como Prática Educativa” – de Danilo Gandin e “Planejamento na Sala de Aula” – de Danilo Gandin e Carlos H. Carrilho Cruz


Pergunta-se:

a) O que queremos alcançar?

b) A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?

c) O que faremos concretamente, e em que espaço de tempo, para diminuir esta distância?