terça-feira, 21 de agosto de 2007

CAOS

A situação nos aeroportos brasileiros não anda nada boa. Não estou escrevendo isso só porque também fui vítima da desordem, mas sim pra relatar a falta de bom senso e o descaso no planejamento estratégico de algumas companhias aéreas e na atitude de alguns de seus funcionários, o que nos dificulta ainda mais dentro de todo esse tumulto.

Com viagem marcada para a cidade de Contagem –MG no dia 23/07/2007, cheguei ao aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, às 17:00 h. O meu vôo estava marcado para às 18:00h. Com o aeroporto completamente lotado, muitas pessoas desesperadas com vôos atrasados ou cancelados, outras já tinham perdidos os seus vôos, e haviam também delegações do Pan-americano com vôos desmarcados, repórteres procurando pessoas que estavam enlouquecidas com a situação e prontas para desabafar e colocar na mídia toda a sua raiva. Entrevistaram até uma garotinha que estava chorando porque perdeu o seu vôo. Uma loucura. Por falar na imprensa... ela está muito interessada nesse caso. Quero lembrar que também vivemos um caos nas ruas, rodovias e estradas brasileiras e eu nunca vi a imprensa tão presente assim. Sabemos que não temos nenhum investimento no transporte ferroviário, que é mais barato, mais rápido e menos poluente. Sabemos também que existem inúmeros acidentes nas ruas das grandes cidades e nas estradas. E eu nunca vi a imprensa dar tanta importância assim. Mas isso é uma coisa pra ser discutida em um outro momento.

Voltemos ao caos aéreo... Fui procurar, no meio de todas aquelas pessoas, onde eu poderia pegar as minhas passagens. A empresa responsável pelo meu vôo era a “GOL LINHAS AÉREAS”. Enfrentei uma fila enorme só para pegar a passagem. Assim que a obtive, perguntei ao rapaz do guichê se ele tinha alguma previsão do horário de chegada do meu vôo. Ele me disse que o vôo estava atrasado e que a previsão de chegada do avião ao aeroporto do Rio de Janeiro era às 20:30.

Para não piorar a situação, me mantive calmo e fui procurar um lugar para sentar e descansar, ler um livro, acessar a Internet, ou seja, fazer a hora passar. Aproveito para dizer que eu não estava sozinho nesse episódio. Minha companheira de trabalho, Sabine, também passou por tudo isso e graças à ela eu puder ter momentos agradáveis no meio de tanta confusão. Quando foi por volta das 20:00h, nós tentamos passar para a sala de embarque e não nos deixaram passar. Nos disseram que nenhum passageiro da “Gol” estava podendo embarcar. Como a situação parecia que não ia melhorar nem tão cedo, fomos comer alguma coisa e conversar mais um pouco, ou seja, novamente fomos fazer a hora passar. Voltamos ao local de embarque às 20:00h e, felizmente, dessa vez nos deixaram passar. Assim que passamos pelos detectores de metal, o auto falante estava anunciando que era a última chamada para o nosso vôo. Corremos em direção ao portão R1 e novamente era anunciada a última chamada do vôo 1746. Chegamos no portão às 20:30h e ele estava fechado. Do outro lado do portão de vidro a funcionária da “Gol”, Marjory, disse que o avião já tinha saído e não tinha mais como embarcar naquele vôo. Eu pensei comigo mesmo como a Gol é pontual. O vôo estava marcado para 20:30h e não atrasou nenhum segundo. O curioso foi que, ao mesmo tempo que a funcionária nos dizia que o vôo já tinha partido, anunciavam novamente no auto falante do aeroporto que era a última chamada para o embarque do mesmo vôo que havia partido. Diante desta contradição ela nos explicou que o vôo já tinha partido com 80 pessoas, pois a companhia aérea preencheu o avião com passageiros que embarcariam no vôo seguinte para desafogar o tráfego aéreo. Por isso o avião não podia atrasar nenhum minuto mais.

Muito pior foi a situação do senhor Luís que passou pelo mesmo problema que a gente, mas com uma pequena diferença: as suas malas estavam no avião que havia partido sem ele. Conclusão: o vôo atrasou duas horas e meia e nós perdemos o vôo porque o avião não podia esperar nem dez minutos mais para avisar os passageiros que estavam faltando.

Ou seja, para a Gol, não importa se tem passageiro que vai se atrasar para o trabalho ou qualquer que seja o compromisso.

Depois dessa situação, procuramos uma solução para o nosso problema. A funcionária Marjory nos disse que poderíamos embarcar no próximo vôo, aquele que teve alguns de seus passageiros com viagem antecipada. A previsão de chegada desse vôo era para as 22:00h. Sabine e eu esperamos até as 03:00h do dia seguinte para saber que o vôo 1732, que seria o que iríamos embarcar, foi cancelado. Saímos da sala de embarque novamente e fomos procurar uma outra alternativa, pois nós tínhamos que estar trabalhando em Contagem / MG às 8:00h. Depois de enfrentar muito tumulto, novamente conseguimos uma passagem para às 8:00h. Exatamente o mesmo horário que estaríamos começando o nosso trabalho. Por várias vezes passou pela minha cabeça que se a empresa tivesse esperado, ou dado um jeito de avisar os passageiros que o avião já estava em solo, eu não teria toda essa esquentação de cabeça. Quando o relógio estava marcando 7:00h, Sabine e eu entramos novamente na sala de embarque, com a esperança de embarcarmos no vôo anterior ao nosso, ou seja, queríamos fazer a mesma coisa que fizeram conosco. Mas assim que sentamos em frente ao portão de embarque para esperar o vôo, foi anunciado que o vôo 1880 com destino a Belo Horizonte estava com três horas de atraso. Mesmo se conseguíssemos embarcar num vôo anterior ao nosso, chegaríamos ao nosso destino com mais ou menos umas cinco horas de atraso. Sem saber o que mais iria acontecer, e muito cansados, nós resolvemos entrar em contato com outros companheiros de trabalho e tentar marcar o nosso compromisso em Contagem em um outro momento. Mas fica uma pergunta, quem nos garante que na próxima que tentarmos viajar(a trabalho,ou não) não passaremos pela mesma situação?

Wellington Serra

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Minha experiência na net...

De uns tempos pra cá parece que a minha vida tem me levado a la Zeca Pagodinho a um contato cada vez mais amplo com a web e o mundo dos computadores em geral. Fã de qualquer ferramenta que represente: a) um desafio e b) uma oportunidade, eu já fui contra os computadores e a suposta desumanização que causariam ( como se nós precisássemos de ajuda para desumanizar alguma coisa !!!!)
Bem, tem sido uma aventura cheia de surpresas. A primeira foi descobrir a net como fonte de consumo compulsivo de informação. Vejam bem, não digo que isso seja bom, conto somente como aconteceu comigo...Em seguida, virei professora de inclusão digital e tive de rever todos os meus primeiros passos no computador e relembrar das inseguranças sentidas, sentia eu, há séculos atrás. Depois virei formadora de professores nessa área de inclusão e descobri em uma aula com um colega que a Internet tinha uma base física. Eu não tinha noção de que entrar na Internet era ter acesso a arquivinhos em outros computadores e que cada coisa que eu fazia era um arquivinho em algum computador. Quando eu descobri ( no mesmo dia, por sorte ou azar) que os chamados servidores de Internet nada mais eram do que computadores ligados o tempo inteiro abrigando e facilitando a transferência de vários arquivinhos...entrei em choque ! Sim...
Eu sei. Patético.
Eu imaginava a Internet como uma coisa assim mítica, sei lá, uma nuvem de informação...O virtual era um mundo de bits e bites diferente do meu. Descobrir que tudo isso estava em algum lugar, alguma base sólida, física, acabou comigo. Para mim, ainda parece estranho dizer essas coisas...quase como se eu ainda não acreditasse...tenho até medo de ter entendido errado.
Porque decidi comentar isso tudo em resposta a minha amiga Denise ?????
Porque eu sou da geração do mito. E sou uma educadora. Vejo que meus alunos não encaram as coisas da mesma maneira. Eles não são da geração do mito. São uma geração mais humana ( sim, mais humana!) e logo me explico:
Quando eu estudava o professor era um mito. Eu sentia um orgulho mortal quando um de meus professores me contava algo sobre sua vida pessoal ou quando eu o surpreendia em uma conversa íntima ( para mim era quase como ter acesso a fofocas de uma celebridade...notem que eu disse quase, porque as celebridades do cinema ainda estavam em primeiro lugar ! rs).
Quando eu estudava, o conteúdo era um mito. Algo para iniciados, adquirido a partir de muito esforço e repetição. A arte de saber o que o professor-mito desejava de mim era sacrossanta e a ela dediquei muito de meus estudos ( não digo tudo, porque talvez rs pegasse mal para quem lê e eu quero agradar ! :)
A informação era um mito, bem como a comunicação. Custosas e provenientes de muita dedicação e negociação ( minhas contas de telefone ao longo da adolescência que o digam). Entrar em contato era um mito, um evento.
Hoje, meus alunos não me vêem como um mito, mas como um ser humano. Suas celebridades estão próximas ( já repararam como as referências deles são cada vez mais pessoas de suas comunidades, para bem ou para mal?). Comunicar-se chega a ser instantâneo, como diz o nome do MSN, e toda a preparação de "será-que-eu-ligo-ou-não-ligo-visito-ou-não-visito-porque-não-quero-incomodar" se reduz a responder ou não uma telinha que pisca. Devo confessar que eu ainda me sinto mal deixando piscar a tal telinha...mas meus alunos não : comunicar-se não é mais um mito! Na sala de aula eu sou quase uma telinha que pisca: eles me dizem o que querem dizer, como querem dizer, na hora em que querem dizer, sem nenhum "RESPEITO" falsamente articulado. É um novo conceito de etiqueta. Se eu estou parada em frente a eles, estou online e eles podem me requisitar ( inclusive simultâneamente) a qualquer momento...A aula é um hipertexto ambulante...e eu, bem, eu...hoje dei aula e pedi um pouco de silêncio ( e fui acatada) porque não estava conseguindo pensar com tudo aquilo acontecendo...
O que eu faço com meus mitos há tanto tempo acarinhados? Os mitos que fazem parte de quem eu sou?
Bem...
Minha primeira estratégia foi "ir a luta". Violentá-los ou violentar-me ( nada físico, eu juro!)...Afinal de contas, educadores ou não, essa é uma sociedade violenta e as vezes a gente simplesmente não sabe agir de outra maneira...Não somos perfeitos, não é ? Ao violentá-los tentava impor uma vida mítica, um respeito distante, uma comunicação exageradamente custosa. Ao violentar-me tentava embarcar na onda hipertextual e muitas vezes colocando meus alunos como aqueles que estavam certos...
Como mediar isso, já que alguns nos descrevem como mediadores???
Bem, eu acho que nessa coisa de incluir a tecnologia, de termos computadores em sala, de pensarmos na formação do professor, vou ter que aprender a ouvir. Ouvir essas crianças falarem sobre meus mitos e darem pontos de vista aos quais não estou acostumada. Ouvir sobre seus valores e acreditar ( até se prove o contrário) que meus alunos dizem a verdade ( com muito mais facilidade do que eu, às vezes...)
As atividades para OLPC, os formatos, até mesmo a luta política pela implementação em cada escola...porque não incluir os alunos nisso? Eles podem criar coisas muito mais interessantes do que eu - ser mítico tatibitante - nessa onda hightech de arquivinhos compartilhados...
Por que não perguntar a eles como fazer ? Convidá-los para nossos encontros? Pedir ajuda na requisição dos computadores? Sugerir que eles se mobilizem?
Veja bem, não estou dizendo que não há espaço para o mito. Eles certamente têm os deles...Talvez fosse bom perguntar quais são, pois esses serão os desafios de seus filhos.
Acredito que, para que toda essa nossa proposta de inclusão dar certo, é muito necessário que eu me reconcilie com essa minha visão mítica das coisas e compreenda que sou um passo em direção ao que veio depois ( se é que me explico). assim, não fingirei ser quem não sou e pedirei ajuda aqueles que têm na veia esse mundo virtual ( essa nova geração) e ensinarei o que posso:
" O que fazer quando você quer avançar e suas crenças te fazem empacar?" - porque isso é uma coisa que mesmo as novas gerações não sabem. Nem eu. Nem ninguém. Mas enfim...é um conhecimento a ser co-construído, não?
Espero não ter filosofado demais!BjsSabine