quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Um caminho heterodoxo para transformar a Educação
Estudioso português que criou caso clássico de ruptura com padrões escolares propõe: Brasil, país de inovações, só vencerá atraso educacional se superar convenções e mobilizar sua irreverência e criatividade
Por Patrícia Gomes, no Porvir
Depois de já ter revolucionado os moldes tradicionais de ensino na Escola da Ponte, o professor português José Pacheco, hoje um estudioso da realidade brasileira, aposta na mudança de mentalidade dos professores e no apoio dos governos para haver inovação em educação. Segundo o educador, é preciso que as iniciativas isoladas que ele tem visto pelo país sejam registradas, avaliadas e incentivadas para não serem perdidas. Mais que isso: os professores devem se dispor a mudar para adotar uma postura mais descentralizada, aberta à reflexão, ao diálogo e à diversidade.
Pacheco tornou-se mundialmente conhecido por revolucionar uma escola pública portuguesa, a Ponte, utilizando uma metodologia ousada: ele acabou com turmas, salas de aula, disciplinas e passou a ensinar conforme a motivação dos alunos. Lá, são os próprios estudantes que se organizam em grupos heterogêneos para estudar os assuntos que lhes interessam, são autônomos para pesquisar, apresentar os resultados para os colegas e, quando se sentem prontos, avisam que podem ser avaliados. O educador já está aposentado, mas sua proposta pedagógica continua sendo aplicada na Ponte e é replicada em vários países, inclusive no Brasil.
Como o senhor definiria inovação em educação?
Os arquivos das universidades estão repletos de teses sobre inovação. Sendo um termo de vasto espectro semântico, eu poderia escolher uma definição qualquer e escrever aqui, mas não farei. Prefiro dizer que, no campo teórico da educação, já tudo foi inventado e que as teses são meras reproduções de teorias… Na prática, aquilo que tem sido considerado inovação não tem sido avaliado e, quase sempre, tem consistido apenas em pequenas mudanças num modelo educacional hegemônico e obsoleto. Esse modelo, dito “tradicional”, aquele em que é suposto ser possível transmitir conhecimento, faliu muito tempo atrás.
Nós, brasileiros, somos um povo aberto à inovação?
Sem dúvida que a mistura genética deu origem a um povo criativo. Acompanho algumas práticas embrionárias que provam a capacidade inventiva dos professores brasileiros. São iniciativas que partem de desejos e necessidades sentidas pelos atores locais. Essas práticas (talvez inovadoras) requerem descentralização, questionamento do modelo de relação hierárquica, negociação e contrato, respeito pela diversidade. Tais projetos poderiam constituir-se em oportunidade de mudança, mas o poder criativo não encontra acolhimento junto àqueles a quem compete gerir o sistema. Urge inovar, mas como pode acontecer inovação, se quem decide não tem consciência dessa necessidade?
O que de mais inovador o senhor tem visto pelas suas viagens pelo Brasil?
Tenho visto o trabalho discreto de muitos professores. Um trabalho que talvez mereça ser considerado inovador, mas que, por não ser apoiado pelo poder público, nem avaliado, se perde, quando os professores desistem de querer mudar as escolas, quando desistem de fazer das crianças seres mais sábios e pessoas mais felizes.
Existe mais abertura hoje para projetos que desconstroem a escola tradicional, como a Escola da Ponte ou a Educação Ativa?
Existe abertura por parte de educadores atentos à tragédia educacional brasileira. Há dados que mostram que há alunos que chegam ao ensino médio analfabetos ou incapazes de fazer uma interpretação de texto.
Urge buscar uma escola do conhecimento e abandonar um ensino meramente transmissivo, fomentar a organização do acesso à informação e a aprendizagem do uso do conhecimento.
As escolas se converteram ao mundo digital, mas mantêm e reforçam práticas de ensino obsoletas, o improviso e o imediatismo das “novas” práticas faz prosperar o insucesso. Urge instituir novas e autônomas formas de organização das escolas, mas também recuperar práticas antigas, sem a tentação de clonar a escola da Ponte ou adotar modismos.
Há muitos educadores com um estatuto social degradado, mal remunerados, mas que não desistem de desconstruir o modelo tradicional, de tentar melhorar, melhorando a escola. Eles sabem que o Brasil progredirá através da educação. Mas não aquela educação de que é feita a retórica de político…
Onde estão as principais barreiras para inovar? Nas escolas, entre professores, governantes, pais ou alunos?
A mudança em educação é um processo complexo e moroso: para grandes metas, pequenos passos. Urge buscar uma escola do conhecimento e abandonar um ensino meramente transmissivo, fomentar a organização do acesso à informação e a aprendizagem do uso do conhecimento.
A mudança das instituições passa pela transformação das pessoas que as mantêm. Estabeleça-se uma práxis pautada numa ética da responsabilidade e numa relação dialógica. Que se recusem ideias feitas e se escape à síndrome do pensamento único.
A formação dos professores é deficiente. As escolas são geridas numa racionalidade administrativa e burocrática. Mas o principal obstáculo é o professor, quando assume que o ato de educar é um ato solitário, quando recusa reelaborar a sua cultura pessoal e profissional, no exercício da convivencialidade.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Para onde caminha a humanidade? A Educação conseguirá acompanhá-la?
Para onde caminha a humanidade? A Educação conseguirá acompanhá-la?
Publicado em 23/08/2012
Ninguém sabe, muito menos eu, como será o mundo daqui a meros cinco anos. Porém, algumas coisas nós podemos prever para a próxima década com certa razoabilidade.
No universo da Educação, prever acontecimentos futuros é muito importante, ainda que raramente alguém se preocupe com isso, pois nessa área caminha-se sempre muito lentamente e algumas mudanças ocorrem no intervalo de duas ou mais gerações (quando ocorrem!). Coisas que para alguns gestores públicos, gestores escolares e professores soam hoje como novidade e causam sérias dificuldades de implantação, são, na verdade, velharias que já estão por aí há uma ou duas décadas, como os computadores, a internet e as TDIC de forma geral.
Precisamos ter alguma ideia do que espera por nossos alunos no futuro para que possamos começar desde já a construir teorias e práticas que serão fundamentais daqui há uma ou duas décadas. Não parece razoável que estejamos hoje lutando ainda para tentar salvar paradigmas que já estão putrefatos e modelos que são sabidamente fracassados. Se tivermos que salvar alguma coisa, então que sejam os nossos filhos e netos.
Em alguns casos não é difícil fazer previsões. Por exemplo, é óbvio que não retrocederemos. Somente essa “previsão” básica já deveria nos bastar para que deixássemos de lado atitudes e medidas retrógradas que têm como propósito apenas o retrocesso. Só para ilustrar um exemplo claro disso na seara da Educação, reflitamos sobre a perseguição insana aos “telefones celulares”.
Ora, telefones celulares sequer existem mais! O que se tem hoje em dia são dispositivos móveis multimidiáticos e interconectados em rede que, além das 1001 utilidades que já possuem, e que todos os dias são expandidas, também servem como telefones!
Desde que o bisavô desses aparelhos surgiu, na época com a função única de ser um telefone móvel, mês após mês só assistimos a um desenvolvimento exponencial de funcionalidades cada vez mais úteis. É fácil antever que daqui a cinco anos esses aparelhos terão atingido uma funcionalidade tal que possam substituir quase todos os aparelhos que usamos atualmente para comunicação, entretenimento, educação e negócios, por exemplo.
Em um único aparelhinho desses já é possível realizar tarefas que vão da leitura de um livro, a audiência de um filme, ou da distração de um videogame até transações bancárias complexas. Daqui a uma década esse tipo de dispositivo terá expandido suas funcionalidades tanto para mais coisas banais, como controlar eletrodomésticos, quanto para outras mais sofisticadas, como gerenciar seu computador, secretariar seu dia a dia ou dirigir seu carro.
Então reflita comigo: como nossos filhos vão lidar com isso daqui a dez anos se a escola onde eles estudam agora quer banir os mobiles de parte importante de suas vidas (sim, a escola é parte importante da vida de nossos filhos!) sob o pretexto de que eles “atrapalham a educação”? De fato, eles atrapalham mesmo a Educação que temos hoje nas escolas, e isso é uma grande e inegável verdade, porém, também é uma grande vitória! Atrapalhar um sistema educacional falido e decadente é um ato de heroísmo entremeio a uma batalha épica entre o novo que está brotando e o ultrapassado que está definhando.
Nossos alunos não deveriam carregar mochilas imensas, cheias de livros e cadernos que cabem tranquilamente em um smartphone ou num mini tablet. Eles não precisam mais carregar agendas, relógios, calculadoras, dicionários ou mesmo lápis. Tudo isso já pode ser “embutido” nos aparelhos atuais que, ainda que nos pareçam modernos, daqui a uma década se parecerão com o velho telefone celular “do tipo tijolão”, aquele que tínhamos a justos dez anos atrás e que só servia para informar que não havia sinal analógico disponível na área onde estávamos. Você se lembra disso? Já éramos modernos naquele tempo, não?
Nossos alunos não precisam de um professor de história que saiba de cor datas e nomes de personagens históricos e que ache o máximo da didática contemporânea copiar textos na lousa para depois formular questões de memorização. Esse professor é absolutamente
dispensável, não serve mais. É mais barato para a sociedade distribuir aos alunos tablets que podem transportar toda essa informação em pouco espaço e com pronta disponibilidade (e que vai para casa com o aluno!) do que pagar um cérebro tosco para armazenar apenas uma parte disso tudo e, ainda assim, com pouca disponibilidade e quase nenhuma mobilidade.
O mesmo vale para os professores de qualquer outra disciplina, com exceção justa e devida aos professores alfabetizadores, que têm ainda a grande tarefa de levar aos pequenos as primeiras letras. Mas, mesmo esses já podem e devem contar com recursos menos miseráveis do que uma lousa com giz e apagador, uma apostila aleijada e estática e um caderno amarelado que se tornará lixo no final do ano. Os pequenos podem aprender a ler ouvindo e lendo simultaneamente as palavras, as estórias, a voz gravada do seu próprio professor.
Podem aprender a escrever com um corretor ortográfico (e em breve um corretor caligráfico!) que lhes aponte em tempo real onde estão errando ou acertando. Eles podem fazer coisas incríveis com esses “brinquedinhos inteligentes” que queremos (mas não podemos) proibir que usem.
Nossos alunos não precisam de um professor de história que saiba de cor datas e nomes de personagens históricos e que ache o máximo da didática contemporânea copiar textos na lousa para depois formular questões de memorização. Esse professor é absolutamente
dispensável, não serve mais. É mais barato para a sociedade distribuir aos alunos tablets que podem transportar toda essa informação em pouco espaço e com pronta disponibilidade (e que vai para casa com o aluno!) do que pagar um cérebro tosco para armazenar apenas uma parte disso tudo e, ainda assim, com pouca disponibilidade e quase nenhuma mobilidade.
O mesmo vale para os professores de qualquer outra disciplina, com exceção justa e devida aos professores alfabetizadores, que têm ainda a grande tarefa de levar aos pequenos as primeiras letras. Mas, mesmo esses já podem e devem contar com recursos menos miseráveis do que uma lousa com giz e apagador, uma apostila aleijada e estática e um caderno amarelado que se tornará lixo no final do ano. Os pequenos podem aprender a ler ouvindo e lendo simultaneamente as palavras, as estórias, a voz gravada do seu próprio professor. Podem aprender a escrever com um corretor ortográfico (e em breve um corretor caligráfico!) que lhes aponte em tempo real onde estão errando ou acertando. Eles podem fazer coisas incríveis com esses “brinquedinhos inteligentes” que queremos (mas não podemos) proibir que usem.
Há muito mais para ser pensado, criado e destruído do que nossa capacidade de compreender as mudanças em nosso próprio entorno. Já acabou a era dos gênios solitários, das teorias de um profeta só. Estamos na era do conhecimento construído socialmente, fruto de uma inteligência que extrapola nossos cérebros individuais. Estamos na era da mobilidade, das redes, da construção coletiva. E é sob essa ótica que precisamos começar a enxergar uma nova escola.
Nossa geração é um tanto covarde, submissa, conformista, consumista, apática e servil. Fomos educados, nesse mesmo modelo de escola que ainda temos, para sermos assim: “bundões”. Mas, quem sabe consigamos salvar as próximas gerações (temos que acreditar que podemos!) e, talvez, em um futuro distante, arqueólogos descubram em nós algum valor que nós mesmos não somos capazes de acreditar que possuímos.
Sobre o autor: José Carlos Antonio, @profjc , físico, professor, autor de material didático de Física para o Ensino Médio e cursinhos, autor de material didático de Matemática para o Ensino Fundamental, autor de material didático para formação de professores (EAD), formador do Cenpec e do Educarede, consultor de EAD e TI, trabalha com o uso pedagógico das TICs há cerca de duas décadas e participou de “n” projetos nessa área ao longo desses anos. Twitter: @profjc ; Facebook: ProfiJC ; Blog:http://professordigital.wordpress.com; Email: profjc@gmail.com
Publicado em 23/08/2012
Ninguém sabe, muito menos eu, como será o mundo daqui a meros cinco anos. Porém, algumas coisas nós podemos prever para a próxima década com certa razoabilidade.
No universo da Educação, prever acontecimentos futuros é muito importante, ainda que raramente alguém se preocupe com isso, pois nessa área caminha-se sempre muito lentamente e algumas mudanças ocorrem no intervalo de duas ou mais gerações (quando ocorrem!). Coisas que para alguns gestores públicos, gestores escolares e professores soam hoje como novidade e causam sérias dificuldades de implantação, são, na verdade, velharias que já estão por aí há uma ou duas décadas, como os computadores, a internet e as TDIC de forma geral.
Precisamos ter alguma ideia do que espera por nossos alunos no futuro para que possamos começar desde já a construir teorias e práticas que serão fundamentais daqui há uma ou duas décadas. Não parece razoável que estejamos hoje lutando ainda para tentar salvar paradigmas que já estão putrefatos e modelos que são sabidamente fracassados. Se tivermos que salvar alguma coisa, então que sejam os nossos filhos e netos.
Em alguns casos não é difícil fazer previsões. Por exemplo, é óbvio que não retrocederemos. Somente essa “previsão” básica já deveria nos bastar para que deixássemos de lado atitudes e medidas retrógradas que têm como propósito apenas o retrocesso. Só para ilustrar um exemplo claro disso na seara da Educação, reflitamos sobre a perseguição insana aos “telefones celulares”.
Ora, telefones celulares sequer existem mais! O que se tem hoje em dia são dispositivos móveis multimidiáticos e interconectados em rede que, além das 1001 utilidades que já possuem, e que todos os dias são expandidas, também servem como telefones!
Desde que o bisavô desses aparelhos surgiu, na época com a função única de ser um telefone móvel, mês após mês só assistimos a um desenvolvimento exponencial de funcionalidades cada vez mais úteis. É fácil antever que daqui a cinco anos esses aparelhos terão atingido uma funcionalidade tal que possam substituir quase todos os aparelhos que usamos atualmente para comunicação, entretenimento, educação e negócios, por exemplo.
Em um único aparelhinho desses já é possível realizar tarefas que vão da leitura de um livro, a audiência de um filme, ou da distração de um videogame até transações bancárias complexas. Daqui a uma década esse tipo de dispositivo terá expandido suas funcionalidades tanto para mais coisas banais, como controlar eletrodomésticos, quanto para outras mais sofisticadas, como gerenciar seu computador, secretariar seu dia a dia ou dirigir seu carro.
Então reflita comigo: como nossos filhos vão lidar com isso daqui a dez anos se a escola onde eles estudam agora quer banir os mobiles de parte importante de suas vidas (sim, a escola é parte importante da vida de nossos filhos!) sob o pretexto de que eles “atrapalham a educação”? De fato, eles atrapalham mesmo a Educação que temos hoje nas escolas, e isso é uma grande e inegável verdade, porém, também é uma grande vitória! Atrapalhar um sistema educacional falido e decadente é um ato de heroísmo entremeio a uma batalha épica entre o novo que está brotando e o ultrapassado que está definhando.
Nossos alunos não deveriam carregar mochilas imensas, cheias de livros e cadernos que cabem tranquilamente em um smartphone ou num mini tablet. Eles não precisam mais carregar agendas, relógios, calculadoras, dicionários ou mesmo lápis. Tudo isso já pode ser “embutido” nos aparelhos atuais que, ainda que nos pareçam modernos, daqui a uma década se parecerão com o velho telefone celular “do tipo tijolão”, aquele que tínhamos a justos dez anos atrás e que só servia para informar que não havia sinal analógico disponível na área onde estávamos. Você se lembra disso? Já éramos modernos naquele tempo, não?
Nossos alunos não precisam de um professor de história que saiba de cor datas e nomes de personagens históricos e que ache o máximo da didática contemporânea copiar textos na lousa para depois formular questões de memorização. Esse professor é absolutamente
dispensável, não serve mais. É mais barato para a sociedade distribuir aos alunos tablets que podem transportar toda essa informação em pouco espaço e com pronta disponibilidade (e que vai para casa com o aluno!) do que pagar um cérebro tosco para armazenar apenas uma parte disso tudo e, ainda assim, com pouca disponibilidade e quase nenhuma mobilidade.
O mesmo vale para os professores de qualquer outra disciplina, com exceção justa e devida aos professores alfabetizadores, que têm ainda a grande tarefa de levar aos pequenos as primeiras letras. Mas, mesmo esses já podem e devem contar com recursos menos miseráveis do que uma lousa com giz e apagador, uma apostila aleijada e estática e um caderno amarelado que se tornará lixo no final do ano. Os pequenos podem aprender a ler ouvindo e lendo simultaneamente as palavras, as estórias, a voz gravada do seu próprio professor.
Podem aprender a escrever com um corretor ortográfico (e em breve um corretor caligráfico!) que lhes aponte em tempo real onde estão errando ou acertando. Eles podem fazer coisas incríveis com esses “brinquedinhos inteligentes” que queremos (mas não podemos) proibir que usem.
Nossos alunos não precisam de um professor de história que saiba de cor datas e nomes de personagens históricos e que ache o máximo da didática contemporânea copiar textos na lousa para depois formular questões de memorização. Esse professor é absolutamente
dispensável, não serve mais. É mais barato para a sociedade distribuir aos alunos tablets que podem transportar toda essa informação em pouco espaço e com pronta disponibilidade (e que vai para casa com o aluno!) do que pagar um cérebro tosco para armazenar apenas uma parte disso tudo e, ainda assim, com pouca disponibilidade e quase nenhuma mobilidade.
O mesmo vale para os professores de qualquer outra disciplina, com exceção justa e devida aos professores alfabetizadores, que têm ainda a grande tarefa de levar aos pequenos as primeiras letras. Mas, mesmo esses já podem e devem contar com recursos menos miseráveis do que uma lousa com giz e apagador, uma apostila aleijada e estática e um caderno amarelado que se tornará lixo no final do ano. Os pequenos podem aprender a ler ouvindo e lendo simultaneamente as palavras, as estórias, a voz gravada do seu próprio professor. Podem aprender a escrever com um corretor ortográfico (e em breve um corretor caligráfico!) que lhes aponte em tempo real onde estão errando ou acertando. Eles podem fazer coisas incríveis com esses “brinquedinhos inteligentes” que queremos (mas não podemos) proibir que usem.
Há muito mais para ser pensado, criado e destruído do que nossa capacidade de compreender as mudanças em nosso próprio entorno. Já acabou a era dos gênios solitários, das teorias de um profeta só. Estamos na era do conhecimento construído socialmente, fruto de uma inteligência que extrapola nossos cérebros individuais. Estamos na era da mobilidade, das redes, da construção coletiva. E é sob essa ótica que precisamos começar a enxergar uma nova escola.
Nossa geração é um tanto covarde, submissa, conformista, consumista, apática e servil. Fomos educados, nesse mesmo modelo de escola que ainda temos, para sermos assim: “bundões”. Mas, quem sabe consigamos salvar as próximas gerações (temos que acreditar que podemos!) e, talvez, em um futuro distante, arqueólogos descubram em nós algum valor que nós mesmos não somos capazes de acreditar que possuímos.
Sobre o autor: José Carlos Antonio, @profjc , físico, professor, autor de material didático de Física para o Ensino Médio e cursinhos, autor de material didático de Matemática para o Ensino Fundamental, autor de material didático para formação de professores (EAD), formador do Cenpec e do Educarede, consultor de EAD e TI, trabalha com o uso pedagógico das TICs há cerca de duas décadas e participou de “n” projetos nessa área ao longo desses anos. Twitter: @profjc ; Facebook: ProfiJC ; Blog:http://professordigital.wordpress.com; Email: profjc@gmail.com
“Educação se faz de pessoa para pessoa”
Paulo Blikstein é um engenheiro que se apaixonou por educação. Não é que ele tenha resolvido colocar a graduação na USP de lado e se dedicar a uma área completamente diferente na sua vida acadêmica. Decidiu, antes de tudo, colocar seu talento na engenharia a serviço da educação e estudá-la a fundo. Hoje, professor assistente da School of Education de Stanford, no coração do Vale do Silício, região norte-americana onde a inovação é mais pulsante, ele e sua equipe tentam contribuir com a melhora dos processos de ensino-aprendizagem pelo mundo. Para tanto, criam tecnologias que tornam o aprendizado uma experiência mais enriquecedora e se esforçam para torná-las baratas; desenvolvem formas de avaliação que buscam entender como os alunos aprendem; e, além disso, tentam convencer a sociedade de que tornar as escolas mais inovadoras é uma decisão política pela qual vale a pena lutar.
Como é possível desconfiar, a tecnologia está no cerne dos trabalhos do brasileiro. Contudo, Blikstein critica o uso irrestrito desses recursos. Num momento em que muitas possibilidades tecnológicas emergem na educação, o pesquisador faz um alerta: a tecnologia é importante, mas o diferencial para qualquer país que queira transformar sua educação é o capital humano. “Educação se faz de pessoa para pessoa”, afirma ele.
O que essa nova invenção está propondo é um jeito de otimizar um sistema falido ou é um jeito novo de fazer educação?
Em conversa com o Porvir, Blikstein contou sua experiência em Stanford, falou da sua aposta no aprendizado baseado em projetos e defendeu que a criatividade e a inovação sejam desenvolvidas desde cedo nas escolas. Confira.
Temos visto a educação estar cada vez mais nas rodas de discussão. É possível dizer que o assunto virou uma preocupação geral?
Você sabe essa piada que o Brasil tem 190 milhões de técnicos de futebol. Todo mundo acha que entende e dá palpite. Na educação é parecido. A educação virou um assunto-chave porque a maioria dos países percebeu que capital humano é o mais importante. O resto você pode comprar: recursos naturais, até tecnologia. As pessoas são as que fazem a diferença. Você olha os países que realmente tiveram boom de desenvolvimento. Sem gente boa para sustentar a inovação, o desenvolvimento das tecnologias e ensinar as novas gerações, a coisa acaba. As pessoas estão percebendo isso e virou uma questão Por um lado, é bom porque mostra que as pessoas querem ajudar a educação. Mas o lado ruim é que você precisa de um filtro.
Como diferenciar uma boa ideia de uma ideia inovadora?
A profissão do educador deveria se voltar para ser um filtro de todas essas invenções antes de chegar ao aluno. A pergunta fundamental que faço é: o que essa nova invenção está propondo é um jeito de otimizar um sistema falido ou é um jeito novo de fazer educação? 90% são um jeito de otimizar um sistema falido. E que sistema é esse? É aquele onde a educação é um processo de transmissão de conhecimento. O conhecimento está pronto e a gente precisa enfiá-lo na cabeça das crianças. As pessoas sugerem vídeos on-line, animações superdivertidas, cinema. Mas é sempre o mesmo paradigma. Um paradigma, mais alinhado com o século 21, é admitir que parte desse conhecimento está pronto, mas para aprender, o aluno precisa gerar sua própria versão das coisas. Ele tem que olhar o mundo e reconstruir isso tudo na cabeça. O conhecimento é sempre construído. Tudo o que se puder facilitar, melhorar, otimizar, enriquecer essa reconstrução, será educação para o século 21.
Qual é o papel do professor num contexto de inclusão das tecnologias em sala de aula?
Eliminar o professor da educação é um projeto recorrente e que consistentemente vem dando errado. A escola ajuda a entrar em contato com o conhecimento, a organizar o tempo, a se disciplinar. Os alunos, que ainda estão em formação intelectual, afetiva e das suas habilidades não cognitivas, precisam de adultos, de pessoas que diagnostiquem o que elas sabem e o que elas não sabem, receitem o que precisa ser feito. Educação é uma atividade de pessoa para pessoa.
O senhor considera o aprendizado baseado em projetos uma tendência?
Tanto acho que um dos principais projetos que eu estou fazendo, o Fablab at School, leva o aprendizado baseado em projetos para escolas do mundo todo. É um laboratório de fabricação digital que fazemos nas escolas. Levamos uma impressora 3D, uma cortadora a laser, robótica, eletrônica – máquinas que só estão disponíveis para engenheiros e de empresas de design – a crianças de 12 anos. Os projetos que elas conseguem fazer não são diferentes dos de alunos de engenharia do terceiro ano. A gente dá as mesmas ferramentas e as crianças tendem a ser mais criativas. Mas um dos problemas do aprendizado baseado em projetos é que não existem boas formas de avaliá-lo. Então estamos desenvolvendo, usamos sensores biológicos, colados no corpo da criança, que conseguem ver seu nível de empolgação em uma atividade; rastreadores oculares, que indicam para onde a criança está olhando e a dilatação da pupila para saber se ela está interessada; algoritmos que olham padrões de colaboração. Analisamos se o tipo de raciocínio que ela usa evolui na medida em que participa do projeto.
O jeito como a gente ensina é a imagem do que a gente é como sociedade
E dá para fazer esses laboratórios em grande escala?
É uma questão de se decidir o que é importante. Se você acha que invenção, inovação, criatividade é menos importante que futebol, então você vai ter uma quadra e não vai ter um laboratório. É uma questão de vontade política. Quando a gente, como sociedade, decide que alguma coisa é importante, a gente faz essas coisas acontecerem, a gente cria toda uma ecologia e um aparato.
E o Brasil já fez essa opção pela inovação?
O Brasil é o país perfeito para a inovação porque estamos inovando o tempo todo, achando soluções supercriativas para as coisas. Não entendo por que não se explora essa vocação na educação. Tem que começar cedo e perder o medo de que, se dedicar 20% das horas na escola para coisas mais criativas, você vai aprender 10% a menos de matemática. Essa é a matemática que todo mundo vai esquecer de qualquer jeito.
Isso implicaria numa flexibilização nos parâmetros curriculares, certo?
Se você tem 16 disciplinas no Ensino Médio e cada uma tem 45 minutos, não dá tempo de você fazer nada. Você pode flexibilizar de forma que os alunos possam escolher o que eles querem fazer – você não precisa forçar todo mundo a aprender a mesma coisa. Se você tem um supertalento em matemática, mas não tem um curso que possa fazer, você está desperdiçando um talento. Todo talento alocado no lugar errado é uma ineficiência do sistema.
Qual é a escola que você quer?
Uma escola onde os alunos encontrem sua paixão intelectual desde cedo, que tenham professores que saibam alimentar isso de uma forma produtiva, tenham ferramentas apropriadas para expressar esse talento. Escolas onde as crianças aprendam a aprender, aprendam a ensinar outras pessoas, onde se crie o espírito cívico e democrático como uma coisa endêmica. O jeito como a gente ensina é a imagem do que a gente é como sociedade. O que eu faço, como professor e pesquisador, é criar novas formas de avaliação, novas tecnologias, tecnologias de baixo custo, convencer a sociedade de que essa é uma decisão que vale a pena abraçar.
Como é possível desconfiar, a tecnologia está no cerne dos trabalhos do brasileiro. Contudo, Blikstein critica o uso irrestrito desses recursos. Num momento em que muitas possibilidades tecnológicas emergem na educação, o pesquisador faz um alerta: a tecnologia é importante, mas o diferencial para qualquer país que queira transformar sua educação é o capital humano. “Educação se faz de pessoa para pessoa”, afirma ele.
O que essa nova invenção está propondo é um jeito de otimizar um sistema falido ou é um jeito novo de fazer educação?
Em conversa com o Porvir, Blikstein contou sua experiência em Stanford, falou da sua aposta no aprendizado baseado em projetos e defendeu que a criatividade e a inovação sejam desenvolvidas desde cedo nas escolas. Confira.
Temos visto a educação estar cada vez mais nas rodas de discussão. É possível dizer que o assunto virou uma preocupação geral?
Você sabe essa piada que o Brasil tem 190 milhões de técnicos de futebol. Todo mundo acha que entende e dá palpite. Na educação é parecido. A educação virou um assunto-chave porque a maioria dos países percebeu que capital humano é o mais importante. O resto você pode comprar: recursos naturais, até tecnologia. As pessoas são as que fazem a diferença. Você olha os países que realmente tiveram boom de desenvolvimento. Sem gente boa para sustentar a inovação, o desenvolvimento das tecnologias e ensinar as novas gerações, a coisa acaba. As pessoas estão percebendo isso e virou uma questão Por um lado, é bom porque mostra que as pessoas querem ajudar a educação. Mas o lado ruim é que você precisa de um filtro.
Como diferenciar uma boa ideia de uma ideia inovadora?
A profissão do educador deveria se voltar para ser um filtro de todas essas invenções antes de chegar ao aluno. A pergunta fundamental que faço é: o que essa nova invenção está propondo é um jeito de otimizar um sistema falido ou é um jeito novo de fazer educação? 90% são um jeito de otimizar um sistema falido. E que sistema é esse? É aquele onde a educação é um processo de transmissão de conhecimento. O conhecimento está pronto e a gente precisa enfiá-lo na cabeça das crianças. As pessoas sugerem vídeos on-line, animações superdivertidas, cinema. Mas é sempre o mesmo paradigma. Um paradigma, mais alinhado com o século 21, é admitir que parte desse conhecimento está pronto, mas para aprender, o aluno precisa gerar sua própria versão das coisas. Ele tem que olhar o mundo e reconstruir isso tudo na cabeça. O conhecimento é sempre construído. Tudo o que se puder facilitar, melhorar, otimizar, enriquecer essa reconstrução, será educação para o século 21.
Qual é o papel do professor num contexto de inclusão das tecnologias em sala de aula?
Eliminar o professor da educação é um projeto recorrente e que consistentemente vem dando errado. A escola ajuda a entrar em contato com o conhecimento, a organizar o tempo, a se disciplinar. Os alunos, que ainda estão em formação intelectual, afetiva e das suas habilidades não cognitivas, precisam de adultos, de pessoas que diagnostiquem o que elas sabem e o que elas não sabem, receitem o que precisa ser feito. Educação é uma atividade de pessoa para pessoa.
O senhor considera o aprendizado baseado em projetos uma tendência?
Tanto acho que um dos principais projetos que eu estou fazendo, o Fablab at School, leva o aprendizado baseado em projetos para escolas do mundo todo. É um laboratório de fabricação digital que fazemos nas escolas. Levamos uma impressora 3D, uma cortadora a laser, robótica, eletrônica – máquinas que só estão disponíveis para engenheiros e de empresas de design – a crianças de 12 anos. Os projetos que elas conseguem fazer não são diferentes dos de alunos de engenharia do terceiro ano. A gente dá as mesmas ferramentas e as crianças tendem a ser mais criativas. Mas um dos problemas do aprendizado baseado em projetos é que não existem boas formas de avaliá-lo. Então estamos desenvolvendo, usamos sensores biológicos, colados no corpo da criança, que conseguem ver seu nível de empolgação em uma atividade; rastreadores oculares, que indicam para onde a criança está olhando e a dilatação da pupila para saber se ela está interessada; algoritmos que olham padrões de colaboração. Analisamos se o tipo de raciocínio que ela usa evolui na medida em que participa do projeto.
O jeito como a gente ensina é a imagem do que a gente é como sociedade
E dá para fazer esses laboratórios em grande escala?
É uma questão de se decidir o que é importante. Se você acha que invenção, inovação, criatividade é menos importante que futebol, então você vai ter uma quadra e não vai ter um laboratório. É uma questão de vontade política. Quando a gente, como sociedade, decide que alguma coisa é importante, a gente faz essas coisas acontecerem, a gente cria toda uma ecologia e um aparato.
E o Brasil já fez essa opção pela inovação?
O Brasil é o país perfeito para a inovação porque estamos inovando o tempo todo, achando soluções supercriativas para as coisas. Não entendo por que não se explora essa vocação na educação. Tem que começar cedo e perder o medo de que, se dedicar 20% das horas na escola para coisas mais criativas, você vai aprender 10% a menos de matemática. Essa é a matemática que todo mundo vai esquecer de qualquer jeito.
Isso implicaria numa flexibilização nos parâmetros curriculares, certo?
Se você tem 16 disciplinas no Ensino Médio e cada uma tem 45 minutos, não dá tempo de você fazer nada. Você pode flexibilizar de forma que os alunos possam escolher o que eles querem fazer – você não precisa forçar todo mundo a aprender a mesma coisa. Se você tem um supertalento em matemática, mas não tem um curso que possa fazer, você está desperdiçando um talento. Todo talento alocado no lugar errado é uma ineficiência do sistema.
Qual é a escola que você quer?
Uma escola onde os alunos encontrem sua paixão intelectual desde cedo, que tenham professores que saibam alimentar isso de uma forma produtiva, tenham ferramentas apropriadas para expressar esse talento. Escolas onde as crianças aprendam a aprender, aprendam a ensinar outras pessoas, onde se crie o espírito cívico e democrático como uma coisa endêmica. O jeito como a gente ensina é a imagem do que a gente é como sociedade. O que eu faço, como professor e pesquisador, é criar novas formas de avaliação, novas tecnologias, tecnologias de baixo custo, convencer a sociedade de que essa é uma decisão que vale a pena abraçar.
A escola é o lugar que atrasa o século 21?
A escola é o lugar que atrasa o século 21?, diz especialista
David Albury acredita que educação moderna não possui um modelo, mas indica algumas tendências
25 de setembro de 2012
Não importa muito como ela seja chamada: educação 3.0, educação para o século 21, educação para a vida. Mas a verdade é que muitos educadores já perceberam que os sistemas educacionais precisarão se adaptar se quiserem formar alunos capazes de lidar com a quantidade de informação hoje acessível, hábeis em administrar problemas cada vez mais complexos e prontos para serem atuantes em um mercado que exige habilidades que não ensinadas nos livros. Cientes desse descompasso entre o que a escola oferece e o que o mundo exige, um grupo de especialistas decidiu formar o Global Education Leaders Program (Gelp) para discutir problemas reais de sistemas educacionais espalhados pelo mundo e suas possíveis soluções.
"Não há uma resposta única nem um só modelo a ser seguido", diz David Albury, diretor de design e desenvolvimento do Gelp. O britânico, que foi conselheiro do primeiro-ministro para assuntos estratégicos entre 2002 e 2005, vem conversando com alunos e educadores e conhecendo modelos em todo o mundo. Diante do que tem visto, Albury encontra três tendências importantes para a educação do século 21: personalização, aprendizado baseado em projetos e avaliação por performance.
A personalização, explica ele, não quer dizer necessariamente a adoção de plataformas educacionais online, mas a configuração do aprendizado para necessidades de cada aluno. "A tecnologia é parte essencial nesse processo, mas não é o processo", afirma ele. Como exemplo de escola que desenvolve um ensino personalizado, Albury cita a escola sueca Kunskapsskolan, em que os alunos desenvolvem, com a ajuda de tutores, seus planos individuais de estudo adequado às suas paixões e afinidades, com metas claras, que podem ser acompanhadas ao longo do ano.
O aprendizado baseado em projetos, afirma Albury, tem sido uma escolha que escolas ou grupos de escolas têm feito para desenvolver habilidades nos alunos de maneira menos compartimentalizada. Nessa abordagem, os alunos precisam desenvolver um projeto e, durante o processo, aprendem conceitos das mais diversas disciplinas, trabalham em equipe, tomam decisões. Apesar de ser uma tendência, diz o britânico, ele não conhece nenhum sistema público de ensino que use o formato em todas as suas escolas. "Não precisa ser adotado em sistemas inteiros. Isso pode acontecer de forma piloto", afirma. "Não podemos esperar que os sistemas já comecem perfeitos. Leva tempo para acertar, as pessoas cometem erros."
Já sobre as avaliações por performance, afirma ele, surgem na tentativa de medir e reconhecer habilidades que os testes de múltipla escolha não conseguem. "Como é que eu avalio se um aluno é criativo? Ou se ele é bom em resolver problemas da vida real?", pergunta Albury. Essa questão, que tem afligido líderes educacionais de todo o mundo, não está respondida, mas há algumas tentativas, diz o inglês, de usar colegas, família e comunidade na construção de novas formas de avaliar.
Outra realidade que tem se tornado cada vez mais clara é que processos educativos muito ricos têm ocorrido fora da escola. Albury conta que esteve em uma reunião com alunos canadenses de 13 anos. Um deles lhe disse: "Quando eu venho para a escola, eu sinto que eu estou sendo desempoderado. Fora da escola, eu tenho acesso a várias fontes de informação. Na escola, eu tenho um professor, um livro, talvez um computador." Um colega dele concluiu: "A escola é o lugar que atrasa o século 21."
Trazer a educação que ocorre fora da escola para dentro é um desafio a mais para os professores, que precisam remoldar a forma como lidam com o ofício. "É também uma questão de identidade dos professores." Para tanto, a participação das universidades é fundamental. Nesse quesito, diz o especialista, a demografia do Brasil é mais favorável do que a de países europeus, onde há poucos professores se formando e muitos estão em atividade há muitos anos. "Mais difícil do que aprender é desaprender", afirma Albury.
Equipe brasileira
Formado há quatro anos, o Gelp começou com quatro membros: Ontário (Canadá), Nova York (EUA), Vitória (Austrália) e Inglaterra. No ano passado, o Brasil passou a fazer parte do Gelp, que hoje já tem 13 membros, entre cidades, estados e países. Entre os representantes brasileiros estão a Secretaria Municipal do Rio e as estaduais de São Paulo, Goiás e Pernambuco. Os participantes se encontram duas vezes por ano e, virtualmente, compõem uma rede com atividades ao longo do ano. Em novembro, o Rio de Janeiro será anfitrião do segundo encontro de 2012
David Albury acredita que educação moderna não possui um modelo, mas indica algumas tendências
25 de setembro de 2012
Não importa muito como ela seja chamada: educação 3.0, educação para o século 21, educação para a vida. Mas a verdade é que muitos educadores já perceberam que os sistemas educacionais precisarão se adaptar se quiserem formar alunos capazes de lidar com a quantidade de informação hoje acessível, hábeis em administrar problemas cada vez mais complexos e prontos para serem atuantes em um mercado que exige habilidades que não ensinadas nos livros. Cientes desse descompasso entre o que a escola oferece e o que o mundo exige, um grupo de especialistas decidiu formar o Global Education Leaders Program (Gelp) para discutir problemas reais de sistemas educacionais espalhados pelo mundo e suas possíveis soluções.
"Não há uma resposta única nem um só modelo a ser seguido", diz David Albury, diretor de design e desenvolvimento do Gelp. O britânico, que foi conselheiro do primeiro-ministro para assuntos estratégicos entre 2002 e 2005, vem conversando com alunos e educadores e conhecendo modelos em todo o mundo. Diante do que tem visto, Albury encontra três tendências importantes para a educação do século 21: personalização, aprendizado baseado em projetos e avaliação por performance.
A personalização, explica ele, não quer dizer necessariamente a adoção de plataformas educacionais online, mas a configuração do aprendizado para necessidades de cada aluno. "A tecnologia é parte essencial nesse processo, mas não é o processo", afirma ele. Como exemplo de escola que desenvolve um ensino personalizado, Albury cita a escola sueca Kunskapsskolan, em que os alunos desenvolvem, com a ajuda de tutores, seus planos individuais de estudo adequado às suas paixões e afinidades, com metas claras, que podem ser acompanhadas ao longo do ano.
O aprendizado baseado em projetos, afirma Albury, tem sido uma escolha que escolas ou grupos de escolas têm feito para desenvolver habilidades nos alunos de maneira menos compartimentalizada. Nessa abordagem, os alunos precisam desenvolver um projeto e, durante o processo, aprendem conceitos das mais diversas disciplinas, trabalham em equipe, tomam decisões. Apesar de ser uma tendência, diz o britânico, ele não conhece nenhum sistema público de ensino que use o formato em todas as suas escolas. "Não precisa ser adotado em sistemas inteiros. Isso pode acontecer de forma piloto", afirma. "Não podemos esperar que os sistemas já comecem perfeitos. Leva tempo para acertar, as pessoas cometem erros."
Já sobre as avaliações por performance, afirma ele, surgem na tentativa de medir e reconhecer habilidades que os testes de múltipla escolha não conseguem. "Como é que eu avalio se um aluno é criativo? Ou se ele é bom em resolver problemas da vida real?", pergunta Albury. Essa questão, que tem afligido líderes educacionais de todo o mundo, não está respondida, mas há algumas tentativas, diz o inglês, de usar colegas, família e comunidade na construção de novas formas de avaliar.
Outra realidade que tem se tornado cada vez mais clara é que processos educativos muito ricos têm ocorrido fora da escola. Albury conta que esteve em uma reunião com alunos canadenses de 13 anos. Um deles lhe disse: "Quando eu venho para a escola, eu sinto que eu estou sendo desempoderado. Fora da escola, eu tenho acesso a várias fontes de informação. Na escola, eu tenho um professor, um livro, talvez um computador." Um colega dele concluiu: "A escola é o lugar que atrasa o século 21."
Trazer a educação que ocorre fora da escola para dentro é um desafio a mais para os professores, que precisam remoldar a forma como lidam com o ofício. "É também uma questão de identidade dos professores." Para tanto, a participação das universidades é fundamental. Nesse quesito, diz o especialista, a demografia do Brasil é mais favorável do que a de países europeus, onde há poucos professores se formando e muitos estão em atividade há muitos anos. "Mais difícil do que aprender é desaprender", afirma Albury.
Equipe brasileira
Formado há quatro anos, o Gelp começou com quatro membros: Ontário (Canadá), Nova York (EUA), Vitória (Austrália) e Inglaterra. No ano passado, o Brasil passou a fazer parte do Gelp, que hoje já tem 13 membros, entre cidades, estados e países. Entre os representantes brasileiros estão a Secretaria Municipal do Rio e as estaduais de São Paulo, Goiás e Pernambuco. Os participantes se encontram duas vezes por ano e, virtualmente, compõem uma rede com atividades ao longo do ano. Em novembro, o Rio de Janeiro será anfitrião do segundo encontro de 2012
Assinar:
Postagens (Atom)